O simples tem mais peso por José do Carmo Francisco

Os meus netos Pedro (n. 2011) e António (n. 2016) foram a uma loja de chineses e compraram uma moldura para guardar uma nota de dez euros oferecida pelo avô materno para eles comprarem um gelado quando estiveram juntos a última vez. A nota de dez euros está numa estante da sala ao lado de muitos livros e de algumas fotografias. O seu gesto lembrou-me as palavras de Isabel Pires de Lima (n.1952) na Revista Colóquio/Letras de 1984 sobre o meu livro «Universário» de 1983 – «uma poesia límpida, incisiva e eficaz». Mesmo sem utilizar a palavra «simplicidade» parece-me que a sua inesquecível nota de leitura tem esse sentido e essa direcção e faz o louvor da simplicidade. Anos depois, em Angra do Heroísmo, o poeta Álamo Oliveira, ao apresentar o meu livro «Transferidor e outros poemas», bateu na mesma tecla e reproduziu as palavras da professora, agora (2025) jubilada e condecorada com a Legião de Honra da França. Lembrei-me de Joana Ruas (n.1939) que numa espécie de memória justificativa do seu poema «A um túmulo romano» escreve estas palavras que não esqueço: «Todos os anos em Novembro é Primavera no Jardim dos Mortos». Lembro-me de Irene Lisboa (1892-1958) que na primeira página de «Voltar trás para quê?» escreveu: «Não era uma escritora, não mirava à publicidade. Estava ali um pequeno coração morto que já não era o seu». Lembrei-me também da autora alemã (poesia, teatro, conto) Marieluise Fleisser (1901-1974) para quem «a simplicidade é sempre a ponta de um iceberg porque o que não se vê e está por baixo é que é o mais importante». Fiquemos por aqui. Em resumo: o simples tem mais peso.

Em resumo 13 (José do Carmo Francisco, escritor)

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