Tanta gente a escrever Açores! Por Víctor Rui Dores (347 autores)

            Há um significativo número de escritores açorianos, cuja maturidade literária só veio a ser adquirida com o advento do 25 de Abril de 1974.

            Exceptuando (por questões de índole etária) Armando Côrtes-Rodrigues, Vitorino Nemésio, Natália Correia, João Teixeira de Medeiros, Dinis da Luz, Francisco Coelho Maduro Dias, Urbano Mendonça Dias, Eduíno Borges Garcia, Amílcar Goulart, Pe. Coelho de Sousa, Manuel Barbosa, Tomás da Rosa, Pedro da Silveira, Dias de Melo, José de Almeida Pavão, João Afonso, Otília Fraião, Luísa de Mesquita, e Cunha de Oliveira (Silva Grelo), todos os restantes escritores e poetas açorianos (cujas escritas têm a sua génese à volta do suplementarismo cultural de jornais de Ponta Delgada, Angra do Heroísmo e Horta) só produziram (ou estão em vias de produzir) as suas obras maiores após a referida data. Exemplos disso mesmo são, entre vivos e já falecidos:

I

 Na poesia e ficção narrativa

(198 nomes)

            Adelaide Freitas, Álamo Oliveira, Alexandre Borges, Almeida Firmino, Almeida Naia, Ana Ferraz da Rosa, Ana Paula Martins Goulart, Ângela Almeida, Aníbal Pires, Aníbal Raposo, António Bulcão, Armando Monteiro, Artur Goulart, Artur Veríssimo, Avelina da Silveira, Borges Martins, Brenda Medina, Carlos Alberto Machado, Carlos Ávila de Borba, Carlos Bessa, Carlos Enes, Carlos Fagundes, Carlos Faria, Carlos Manuel Arruda, Carlos Tomé, Carlos Wallenstein, Carolina Cordeiro, Carolina Bettencourt, Carolina Matos, Cisaltina Martins, Conceição Maciel, Cristóvão de Aguiar, Daniel Gonçalves, Daniel de Sá, Diana Zimbron, Diogo Ourique, Eduardo Bettencourt Pinto, Eduardo Ferraz da Rosa, Eduardo Jorge Brum, Eduíno de Jesus, Emanuel Félix, Emanuel Jorge Botelho, Fernanda Mendes, Fernando Aires, Fernando Lima, Fernando Melo, Fraga da Silva, Gabriela Silva, Heitor Aghá Silva, Helena Chrystello,  Hélder Medeiros, Henrique Levy, Humberta Araújo, Humberta Brites Araújo, Humberto Moura, Isolda Brasil, Ivo Machado, Ivone Chinita, Jayme Velho (pseudónimo de Rui de Mendonça), Joana Félix, João Bendito, João Carlos Fraga, João-Luís de Medeiros, João de Melo, João Pedro Porto, João Teixeira de Medeiros, José Carlos Costa, José Carlos Tavares de Melo, Joel Neto, pe. José Machado Lourenço, José Manuel Gregório Ávila, José Berto, Jonas Negalha,  José Daniel Macide, Jorge Diniz, José do Carmo Francisco, José Enes, José Francisco Costa, José Martins Garcia, José Sabino Luís, José Sebag, Judite Jorge, Júlio Tavares Oliveira, Leonardo (Sousa), Leonor Sampaio da Silva, Luísa da Cunha Ribeiro, Luís António de Assis Brasil, Luís Fagundes Duarte, Luís Filipe Borges, Luís Mesquita de Melo, Luís Óscar, Luís Rego, Machado Ávila, Madalena Férin, Madalena San-Bento, Malvina Sousa, Manuel Ferreira, Manuel Jorge Lobão, Manuel Machado, Manuel Tomás, Manuel Viana, Marcolino Candeias, Maria do Céu Brito, Maria Brandão, Maria da Conceição Maciel Amaral, Maria das Dores Beirão, Maria Eduarda Rosa, Maria de Fátima Borges, Maria de Jesus Maciel, Maria João Dodman, Maria João Ruivo, Maria Luísa Lobão, Maria Luísa Soares, Marinho Matos, Mário Cabral, Mário Frayão, Mário Machado Fraião, Marta Dutra, Mateus das Neves, Natália Almeida, Norberto Ávila, Nuno Álvares Mendonça, Nuno Costa Santos, Nuno Dempster, Octávio Medeiros, Onésimo Teotónio Almeida, Orquídea Abreu, Palmira Jorge, Paula de Sousa Lima, Paulo Freitas, Paulo Matos, Pedro Almeida Maia, Pedro Paulo Câmara, Ramiro Dutra, Renata Correia Botelho, Ruben Rodrigues, Rui-Guilherme Morais, Rui Goulart, Rui Machado, Rui Rodrigues, Rui Risona, Sandra Fernandes, Santos Barros, Sara Porto, Sérgio Luís Paixão, Sidónio Bettencourt, Sónia Bettencourt, Sónia Sousa, Urbano Bettencourt, Tomás Borba Vieira, Vasco Pereira da Costa, Vasco Rosa, Victor Rui Dores, Virgílio Vieira, entre muitos outros.

            E que dizer daqueles escritores luso-descendentes que, sendo de nacionalidade americana e canadiana, escreveram e escrevem sobre as suas raízes açorianas: Alfred Lewis, Art Coelho, Charles Reis Félix, David Oliveira, Don Silva, Erika Vasconcelos, Francis M. Rogers, Frank Gaspar, Frank Sousa, Julian Silva, Katherine Vaz, Rose Peters Emery, Rose Silva King, Thomas Braga, entre outros?

            Desenganem-se os que julgam que uma literatura açoriana se faz apenas com os nomes de Antero de Quental, Teófilo Braga, Ernesto Rebelo, Alice Moderno, Florêncio Terra, Rodrigo Guerra, Nunes da Rosa, Manuel Garcia Monteiro, Armando Côrtes-Rodrigues, Roberto de Mesquita e dos já mencionados Vitorino Nemésio e Natália Correia…

II

 Na investigação. (149 nomes)

            Convirá também não perder de vista aqueles nomes que, a começar por Gaspar Fructuoso (1522-1591), marcaram e marcam presença na investigação histórica, literária, social, política, científica, musical e religiosa dos Açores e que, de alguma forma, contribuem para dar um “corpo” à literatura açoriana: Alberto Vieira, Albino Terra Garcia, Álvaro Monjardino, Ana Isabel Serpa, António Cavaco, Antonieta Costa, António Félix Rodrigues, António Ferreira de Serpa, António Machado Pires, António Manuel Frias Martins, Armando Mendes, Pe. António Rego, António Valdemar, Artur Teodoro de Matos, Arsénio Chaves Puim, Augusto Gomes, Avelino de Freitas de Meneses, cón. Caetano Tomás, Caetano Valadão Serpa, Carla Devesa Rodrigues,  Carla Silva Cook, Carlos Cordeiro, Carlos Enes, Carlos Frayão, Carlos Lobão, Carlos Ramos Silveira, Carlos Reis, Carlos Riley, Célia Cordeiro, Conceição Castro Ramos, Conceição Tavares, Creusa Raposo, Cristina Silveira, Diniz Borges, Eduardo Dias, Eduardo Ferraz das Rosa, Eduardo Mayone Dias, Emiliano Toste, Ermelindo Ávila, Ermelindo Peixoto, Fábio Mendes, Fátima Sequeira Dias, Fernando Faria Ribeiro, Ferreira Moreno, cón. Flávio Azeredo, Francisco Carmo, Francisco Carreiro da Costa, Francisco Cota Fagundes, Francisco Ernesto de Oliveira Martins, Francisco Gomes, ten. Francisco José Dias, Francisco Maduro Dias, Frederico Lopes (João Ilhéu), Frederico Machado, Gabriela Funk, Gervásio Lima, Gil Montalverne de Sequeira, Gustavo de Fraga, Helena Mateus Montenegro, Irene Blayer, Jácome de Bruges Bettencourt,  João Afonso Dias, João Bosco Mota Amaral, J. Chrys Chrystello, J. M. Soares de Barcelos, George Monteiro, Gilberta Rocha, Gregory McNab, Heraldo Gregório da Silva, Jácome de Bruges Bettencourt, Jacinto Soares de Albergaria, João António Gomes Vieira, João Brum, João Saramago, Jorge Costa Pereira, Jorge Forjaz, tenente-coronel José Agostinho, José de Almeida Pavão, José Andrade, José Augusto de Faria, José Arlindo Armas Trigueiros, José Bruno Carreiro, José Carlos Costa, José Carlos Garcia, Pe. José Carlos Simplício, José Carlos Teixeira, José do Carmo Francisco, José Elmiro Rocha, José Enes, Pe. José Idalmiro Ferreira, José Gabriel Ávila, José Guilherme Reis Leite, J. M. Bettencourt da Câmara, José Luís Brandão da Luz, José Luís Neto, José Manuel Caldeira, José Medeiros Ferreira, José de Oliveira San-Bento, José Orlando Bretão, José Paulo Lima, José Quintela Soares, Pe. Júlio da Rosa, Leandro Ávila, Lélia Nunes, Liduíno Borba, Luís M. Arruda, Luís Conde Pimentel, Luís Mendonça, Luís Meneses, Luís da Silva Ribeiro, Magda Costa Carvalho, pe. Manuel Garcia Silveira, Manuel Tomás Gaspar da Costa, Manuel Vieira Gaspar, Maria Alice Borba Lopes Dias, Maria Antónia Esteves, Maria Clara Rolão Bernardo, Maria da Conceição Vilhena, Maria Margarida Maia Gouveia, Maria Norberta Amorim, Mary Theresa Silvia Vermette, Mário de Lemos, Nestor de Sousa, pe. Norberto da Cunha Pacheco, Olegário Paz, Paulo Henrique Silva, Paulo Meneses, Pedro de Merelim, Ricardo Madruga da Costa, Rosa Goulart, Rosa Maria Neves Simas, Ruy Galvão de Carvalho, Rui de Sousa Martins, Sérgio Ávila, Susana Goulart Costa, Teixeira Dias, Teófilo Braga, Tomás Duarte, Tiago Simões da Silva, Tony Goulart, Valdemar Mota, Vamberto Freitas, Victor Hugo Forjaz, pe. Vital Cordeiro, Vítor Brasil, Wendy Ferreira, Yolanda Corsepius, Zilda França, entre outros.

III

Veios temáticos

            Falar de escritores açorianos é falar dos retroactivos da memória. A memória da ilha é, ainda e sempre, a temática primeira e privilegiada. A memória da infância insular, a emigração, o devir do tempo, o amor, o mar, a terra, a vida, o sonho e a morte são, por isso, os veios temáticos mais constantes na escrita de autores açorianos. Encontra-se, nos seus livros, uma permanente relação dialéctica entre a ilha e o mundo, funcionando a ilha como uma alegoria ou um símbolo do mundo.

            À boa maneira nemesiana, a ilha é materializada não apenas na sua vertente realista, mas, sobretudo, na sua vertente mítica. E isto porque a ilha é a mãe uterina, simbolizando a constante necessidade de um retorno. Daí que, em maior ou menor grau, todos os escritores açorianos dêem conta da ilha (real e/ou transfigurada) enquanto espaço do vivido, do sentido e do evocado.

            Por outro lado, há, nas obras de alguns autores açorianos, uma certa concepção anti-clerical (explícita nalguns autores, implícita noutros). A isso não será indiferente o facto de uma grande parte desses escritores terem passado pelos bancos do Seminário… Há uma geração estigmatizada pelos dogmas da religião e da instituição militar. E também pelos dogmas da política, já que o Verão (quente) de 1975 fez escorraçar das ilhas alguns desses autores.

            Por isso mesmo, escrever funcionará como uma forma de catarse e de exorcismo da memória. Por exemplo, a memória dolorosa da Guerra Colonial, de cuja experiência alguns escritores (Álamo Oliveira, Cristóvão de Aguiar, João de Melo, José Martins Garcia, Santos Barros e Urbano Bettencourt) souberam retirar o testemunho literário.

            Se evolução houve na ficção narrativa açoriana ao longo das últimas três décadas, tal não se verificou apenas a nível de temática, mas sobretudo em termos de processos de escrita. Assim, de um certo neo-realismo ilhado (tardiamente herdado nos anos 50 e 60 por um Dias de Melo), evoluiu-se para um realismo insulado (sobretudo com a geração da “Glacial”), que mais tarde desembocaria nalgumas interessantes experiências do realismo fantástico.

            Actualmente verifica-se que, a pouco e pouco, os escritores açorianos vão-se deixando de nebulosidades narrativas e optam decisivamente por uma escrita que parte do eu para os outros. Não prescindindo da sua condição insulada, estes autores têm vindo a abrir-se ao enigma do mundo, numa escrita que busca espaços do universal. Este é seguramente um caminho a ser trilhado. Para que a açorianidade literária não se deixe ficar ensimesmada nas ilhas.

                  Victor Rui Dores, poeta

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