António Ferra volta ao pequeno formato

Depois de «de lito» (2021) e de «dis tância» (2023), António Ferra (n.1947) está de regresso ao pequeno formato com esta «metáfora da água» (2025). Com o grafismo de Pedro Serpa e um desenho do autor, a impressão é da Gráfica 99. Num certo sentido, a azenha é também uma metáfora do tempo que corre na levada, para o turbilhão da água que aciona os rodízios que ajudam a transformar o grão em farinha – a origem do pão. Um pequeno livro não é um livro pequeno. Dizem os ingleses «short and sweet»; em português podemos dizer «o tamanho não é a qualidade». Vejamos o poema: «As pedras renascem/e já não vou a tempo de travar a azenha/ com os pássaros a cantarem ladainhas/ uma nascente corrompe-me a memória/e não vejo a escuridão natural do fundo/na metáfora da água/ assim as palavras partem/e os barcos alteram o percurso,/na cabotagem dos dias». Um pequeno livro, mas não tanto.
José do Carmo Francisco, escritor.
