Nunca esperei por José do Carmo Francisco

Em resumo 07

Hoje é 30 de Novembro de 2025. Faz noventa anos que morreu Fernando Pessoa (1888.1935) e que nasceu Woody Allen mas quero abrir a crónica com Natália Correia (1923-1993) que conheci em casa de Orlando Neves (1935-2005) e a quem devo a rima para a palavra «Açores». Cito: «A gente só nasce / quando somos nós / que temos as dores». Voltando ao poeta dos heterónimos, ouvi Ruben A. (1920-1975) dizer na Livraria A.M. Pereira onde editou «A Torre da Barbela» que soube da morte de Fernando Pessoa por Manuel Torre do Vale numa carruagem da Linha do Estoril e do que disse o amigo: «Em Cascais quase ninguém sabe quem é Fernando Pessoa». Este ano de 2025 tem sido rico em centenários para além do duplo de Camilo Castelo Branco (1825-1890). José Cardoso Pires (1925-1998) nasceu em São João do Peso (Vila de Rei) por capricho de sua mãe que obrigou o marido e o sogro a levá-la para a sua terra a fim de ali nascer a criança. «A minha mãe tinha mau feitio como eu» – disse-me à porta do British Bar. Luiz Pacheco (1925-2008) aparecia às vezes na tertúlia informal dessa Livraria e um dia ofereceu-me o livro «Textos Locais». Ficámos amigos e eu fui o assinante nº 186 dos livros da Editora Contraponto. Mandava os livros e ficava à espera que lhe mandassem o dinheiro, o cheque ou o vale postal. Disse-me muitas vezes «Faz tudo o que queiras mas não te esqueças que o dinheiro dá azar». Um pouco na linha de Alexandre O´Neill (1924-1986) que dizia «Escritor homem casado? Ná!» mas casou três vezes com Noémia, Teresa e Laurinda. Diz Woody Allen que viver é uma sorte. Em resumo: devo quase tudo a esta gente e nunca esperei chegar aqui.

José do Carmo Francisco , escritor 

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