
Miragem I
Como se Deus à límpida corrente
Tivesse abandonado uma camélia,
Ou das margens caísse suavemente,
Banhada de luar a loira Ofélia,
Assim eu deparei, amor, boiando
Tua imagem na onda rumorosa:
Depunha-te no rosto, fino de armando,
Um beijo de oiro a trança vaporosa…
Porém, ao contemplar-te a miniatura
Da insinuante, harmónica figura,
Um místico receio me envolveu…
E olhando o firmamento marchetado
De rútilas estrelas, com cuidado,
No alto procurei o olhar teu…
Duarte de Viveiros

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Entre a lava e o silêncio, as ilhas ergueram um coro. Cada voz — nascida do vento, da saudade ou da solidão — tornou-se parte de uma partitura que o Atlântico nunca esqueceu. Dois séculos de poesia açoriana habitam este vasto coro, onde o murmúrio do passado se mistura ao sopro do presente e onde a palavra se transforma em memória viva, em resistência contra o esquecimento.
Aqui reencontram-se poetas de todas as eras — os visionários do século XIX, os modernistas inquietos, os exilados da diáspora e os que hoje reinventam o verbo das ilhas. São vozes que dialogam ao longo do tempo, revelando que a poesia açoriana é menos uma escola literária e mais uma forma de respiração coletiva, um modo de existir no espaço líquido entre terra e sonho.
Coro das Ilhas Eternas é, pois, um ato de continuidade — uma celebração das vozes que o mar não apagou, das palavras que resistem à distância e do fogo interior que mantém acesa, nas páginas e nas almas, a chama do arquipélago.
