
Nova série retratos 78
No momento exacto em que o meu neto António, a caminho da sua aula de Natação na Rua de São Bento, abraçava a Ana Isabel à porta da ADECO na Rua da Palmeira, Jardim Infantil onde durante alguns anos foi aluno, entrava eu no autocarro «758» no Príncipe Real para uma inesperada conversa com o menino Joaquim, aluno do mesmo Jardim Infantil. Depois de lhe entregar um pacote de bolachas e do alto da minha idade, perguntei com convicção mas utilizando uma mentira: «Eu sou da sala da Orlanda e tu és da sala da Dina?». O miúdo ficou sem resposta até porque essas duas Educadoras estão neste momento reformadas. Entretanto o pai do Joaquim, ex-aluno da ADECO (onde se deve ter cruzado com a minha filha Marta) revelou-me que o bisavô do menino é Carlos Pinhão (1924-1993) jornalista que em Agosto de 1978 me apresentou a Jacinto Baptista, director do «Diário Popular» mas antes se deslocou em pessoa ao meu local de trabalho na Rua do Ouro, 110 para me dizer de viva voz que tinha apreciado o poema que lhe enviei e que escrevi a propósito da morte do poeta Ruy Belo (1933-1978). Esse poema marcou a minha estreia no «Diário Popular» na quinta-feira seguinte. Naquela viagem entre o Príncipe Real e as Amoreiras eu não tenho a certeza mas julgo que passou pelo autocarro «758» uma gaivota com óculos que é o título de um dos livros de Carlos Pinhão até porque o Rio Tejo fica apenas a mil e duzentos metros de distância. Voltando ao princípio da crónica, o meu neto António quando abraçou a Ana Isabel à porta da ADECO estava a seguir (talvez sem o saber) o princípio de Santo Agostinho que diz: «A única medida do amor é amar sem medida».
José do Carmo Francisco, escritor
