Em resumo 04

Para além do choque emocional, a notícia da morte de Bertino Coelho Martins (1927-2025) suscitou da minha parte a descoberta na minha estante mais próxima da secretária dos livros que assinou em seu nome («Coisas da nossa gente» em 2000) ou em parceria com Aurélio Lopes: «Os saberes e o lúdico» em 2001, «Fandangos» em 2005 e «Campinas» em 2011. Eles são apenas quatro de uma vasta bibliografia que começou em 1982 com um livro sobre a vida e a obra de Camilo Castelo Branco. A personalidade de Bertino Coelho Martins é marcada por uma espantosa modéstia tão espantosa como a sua sabedoria como etnógrafo, musicólogo, folclorista e antropólogo. Tendo nascido nas Lapas (Torres Novas) acabou por se tornar um escalabitano e fez a ponte entre as origens rurais e o tempo da Biblioteca Municipal de Santarém. O mesmo é dizer entre o mundo da oralidade e o mundo dos livros. Os seus livros apresentam capas de Arnaldo Vasques e prefácios de Aurélio Lopes, Manuel João Barbosa, Carla Raposeira e Ludgero Mendes que assina um posfácio. Isto significa que os seus livros são um ponto de encontro e não um pedestal. Bertino Coelho Martins nunca quis fazer carreira isolado; os livros são comboios onde cabe muita gente. Garrido Editores e Edições COSMOS foram e são companheiros de jornada na edição. Não vale a pena pensar que Portugal é um país de analfabetos – embora seja verdade, Na minha terra os pobres não podem ler uns porque não sabem outros porque não podem comprar livros; os ricos ou não querem ler ou não precisam. Mas vale a pena remar contra a maré como Bertino Coelho Martins. Em resumo – há sempre alguém.
José do Carmo Francisco, escritor
