
Os Read foram uma família de diplomatas ingleses nos Açores. Segundo as Genealogias da Ilha Terceira, vol. 8 (Rayte a Silvano), de António Ornelas Mendes e Jorge Forjaz, publicado em 2007, e a Enciclopédia Açoriana, tudo terá começado com William Harding Read Sénior[1] (Portsmouth, 24 de Agosto de 1774 — Ponta Delgada, 6 de Maio de 1839):
William Harding Read Sénior (Portsmouth, 24 de Agosto de 1774[2] — Ponta Delgada, 6 de Maio de 1839) casou em primeiras núpcias com Mary Kenyon (c. 1770 —), de quem não teve filhos, e em segundas com Luisa Mitchell Meredith Sénior (c. 1780 —), que era viúva do seu irmão John Read Sénior (Inglaterra — 1828), falecido a bordo do navio que o trazia para São Miguel, para onde fora nomeado vice-cônsul. Foi oficial da Royal Navy, tendo aprisionado uma galeota espanhola provinda do México carregada de barras de ouro e prata, cabendo-lhe o quinhão de 40 500$000 réis insulanos e tendo-se integrado na esquadra de Lord Nelson. Mais tarde foi nomeado cônsul-geral da Grã-Bretanha nos Açores, tomando posse em 16 de Março de 1811 e fixando-se em São Miguel. Foi exportador de laranja e importador de aguardente da América e de vinho verdelho de São Jorge. Em 1805 terminou uma planta da ilha de São Miguel e em 1832 foi agraciado com a Ordem da Torre e Espada. Tinha uma casa em Ponta Delgada, na antiga rua de São Francisco (hoje rua Luís Soares de Sousa), onde recebeu D. Pedro IV em 1832, e tinha ainda, na Abelheira, a Quinta da Bela Vista, onde desenvolvia vida social intensa. Publicou a sua «Chart of the Island of St. Michael», em Londres, em 1808, que inclui uma vista de Ponta Delgada, com o Castelo de São Brás e a doca de São Francisco, bem como uma outra com o porto e o ilhéu de Vila Franca.
Luisa Mitchell Meredith Sénior, que casaria em segundas núpcias com William Harding Read Sénior, com quem não teve filhos, teve vários filhos com John Read Sénior, seu irmão:
John Read Júnior (Portsmouth, 1812 — Rua de Jesus, Angra, Terceira, 22 de Novembro de 1879) — Foi vice-cônsul da Inglaterra em São Miguel, a partir de 30 de Novembro de 1846, e na Terceira, a partir de 22 de Dezembro de 1847, e vice-cônsul dos Países Baixos em Ponta Delgada, Terceira, Graciosa e São Jorge, por carta de 11 de Julho de 1848. Foi agente da Lloyds em Angra. Casou a 11 de Outubro de 1838 com Ana Whyton e, em segundas núpcias, em Angra, a 30 de Abril de 1866, com D. Maria Teotónia Borges da Costa. Do seu primeiro casamento teve vários filhos, incluindo Guilherme Read (Matriz, Horta, 15 de Março de 1844 — Ponta Delgada, 1935), que foi também cônsul de Inglaterra em Ponta Delgada com jurisdição nos Açores, a partir de 21 de Abril de 1886, e vice-cônsul da Suécia e da Noruega, a partir de 7 de Fevereiro de 1883, e apenas da Noruega, a partir de 23 de Maio de 1906. Casou em São Miguel em 1878 com Miquelina Júlia de Medeiros (Nordestinho, 1849 — 1886).
Louisa Mitchell Meredyth Read Júnior (Inglaterra, 11 de Novembro de 1816 — Roma, 5 de Fevereiro de 1885), que foi dama de honor da Rainha D. Maria Pia e dama da Real Ordem de Maria Luisa de Espanha. Tornou-se condessa e marquesa de Tomar pelo seu casamento, em Ponta Delgada, a 23 de Agosto de 1834, com António Bernardo da Costa Cabral (Fornos de Algodres, 9 de Maio de 1803 – Porto, 1 de Setembro de 1889), várias vezes ministro e presidente do Conselho de Ministros, par do Reino, embaixador em Roma, etc.
William Harding Read Júnior (Portsmouth, 24 de Agosto 1821 — Ponta Delgada, 18 de Junho de 1897) casou em Ponta Delgada (S. José), a 16 de Janeiro de 1856, com D. Maria Isabel Leite Pacheco de Bettencourt. Foi criado, após o falecimento do seu pai, John Read Sénior, pelo seu padrasto e tio, William Harding Read Sénior, de quem era simultaneamente sobrinho e enteado. Naturalizou-se cidadão português, baptizando-se como católico e tomando o nome de Guilherme Read Cabral[3] — adoptando para isso o nome de família do seu cunhado António Bernardo da Costa Cabral. É dele que vamos falar.

Além de ter sido director das alfândegas de Ponta Delgada, da Horta e do Funchal e 1.° oficial da alfândega de Lisboa, Guilherme Read Cabral foi ainda governador civil do distrito da Horta, entre 14 de Setembro de 1893 e 4 de Janeiro de 1894, tendo sido condecorado como Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e feito Comendador da Ordem Militar de Cristo, títulos de que não prescindia quando fazia publicar nos jornais editais relacionados com o seu cargo na alfândega[4]. Foi também presidente da Sociedade de Beneficência da Ilha de São Miguel. Enquanto autor, colaborou no semanário «Revista dos Açores» e n’«O paquete do Tejo», entre 1873 e 1874 foi proprietário e redactor d’«O Cultivador»[5], publicado mensalmente em Ponta Delgada, e publicou muitas obras, desde compêndios de legislação fiscal a romances (históricos[6], de ficção científica[7], etc.), passando por volumes de poesia[8] e escritos históricos[9]. Maria de Deus Duarte, no artigo «’Haveis de ver, tão somente, o que haveis de ser’: Memória e pertença em Angela Santa Clara», Revista de Estudos Anglo-Portugueses, n.º 18, de 2009, pp. 69-92, apresenta Reid Cabral da seguinte forma:
«O ávido domínio do património cultural e do legado histórico nacionais, a vasta erudição, e a capacidade de reflexão sobre a realidade coeva espelham-se nos trabalhos de Read Cabral de pendor historicista, mas grandeza literária discutível, como Revista Geral de Historia Antiga e Moderna, Em Uma Serie de Cartas; A Sua Alteza Real[10] e Glória e Primores de Portugal. Membro do Gremio Trovador açoriano, Read Cabral repartirá ainda os seus interesses pedagógicos pelo drama, jurisprudência, governação (Governador Civil do distrito da Horta em 1893-4), exaltação da paisagem ameaçada, horticultura e jardinagem, tendo sido membro da Real Associação Central de Agricultura Portuguesa e redactor e proprietário da publicação mensal O Cultivador — “[o] digésto das melhores publicações modernas dos paizes mais adiantados na grande e primeira de todas as sciencias, a cultura da terra”.[11] Na sequência de obras que não procuram o êxito editorial, popularidade ou lucro, mas esmaltam com brilho a História de Portugal, os mitos culturais, a dimensão subjectivista e o objectivo a alcançar − “Facilitar a acquisição e reminiscência da parte mais importante, interessante, e de facto a única essencial de conhecimentos”[12] −, Read Cabral centra-se na actuação no presente[13] e na investigação do passado da Madeira e dos Açores, aliando ao seu olhar retrospectivo fontes documentais, ficção e poesia — a última, na linha de Castilho — em Nelson, Em Pleno Atlântico[14] e Angela Santa Clara.»
Era, como se vê, personagem interessante, Reid Cabral[15]. Do ponto de vista literário[16], as opiniões dividem-se. Maria de Deus Duarte diz ser de «grandeza literária discutível» e é geralmente considerado um autor menor. Ainda assim, e se bem me lembro, Pedro da Silveira incluiu-o na sua Antologia de poesia açoriana : do século XVIII a 1975, publicado em 1977. Foi também louvado como bom poeta por Francisco Maria Supico (Lousã, 1 de Novembro de 1830 — Rosto de Cão, Ponta Delgada, 20 de Abril de 1911). Um dos livros que publicou, um tanto sui generis, foi o seu Glorias e primores de Portugal, saído em 1889, combinação de poesia e prosa com uma descrição, inclusive histórica, de vários aspectos de Portugal continental e insular, e resultado da sua passagem, devido a colocações durante a sua carreira alfandegária, pelo Funchal e por Lisboa.
E que tem isto a ver com as Flores? É verdade que o Glorias e primores de Portugal inclui um capítulo inteiro dedicado à descrição das Flores, que não é desinteressante, e que um dia destes publicarei. Dedica-o ao «Ex.mo Sr. Comendador José Constantino da Silveira e Almeida»[17], segundo ele, «o maior proprietario das Flores, apreciador do bello como poucos, e que tem em Santa Cruz um palacete luxuosamente mobilado, sendo a admiração de todos encontrar n’uma pequena ilha, tão fóra da circulação, uma residencia de tanto primor». Ter-lhe-á proporcionado uma visita à ilha que lhe deixou recordações duradouras.
O mais interessante é mesmo o que aconteceu nas Flores poucos anos depois, e a notícia que disso me chegou muitos anos depois e que me forçou a investigar sobre a estadia de Read Cabral por cá. Foi o nosso grande Frederico Fournier que me contou a história. Diz ele que, há uma boa quantidade de anos, encontrou no lixo, algures nas Flores, na altura em que o lixo de Santa Cruz ainda ia para a Ponta Ruiva, um exemplar deste Glorias e primores de Portugal autografado por Maria Antónia Mendonça Armas[18]. Contactou-me há dias perguntando se eu o conhecia e se queria uma cópia. (Bem-hajas, Frederico!) Claro que sim, disse-lhe. Recebi um grande pacote digital contendo todas as páginas do volume primorosamente digitalizadas. Comecei a organizar o manancial nos meus arquivos, produzindo um ficheiro PDF com o conjunto das páginas. Só depois o percorri. No final, já depois do verso da última página, a 293, contendo o final do índice, e bem depois do capítulo sobre as Flores, que se inicia na página 229 e termina na 239, surgia uma nova página de rosto (bonita, por sinal): «Ilha das Flores». A numeração recomeçava, nessa altura, na página 1. Que seria? Dois capítulos sobre a mesma ilha num só livro? Verdade que o segundo «capítulo» florentino tinha o formato de um relatório datado de 10 de Junho de 1891, posterior à publicação do próprio livro. Provavelmente teria sido uma encadernação conjunto. O caso merecia uma investigação.
Comecemos em 1877, quando Reid Cabral tinha cerca de 56 anos. Nesse ano, e para desgosto de muitos micaelenses e de muitos açorianos em geral, Read Cabral foi transferido para Lisboa[19]. A sua partida levou a múltiplas manifestações de apreço pelo funcionário exemplar que havia tantos anos dirigia a alfândega de Ponta Delgada. Permaneceu em Lisboa longos anos, embora, em 1883, por alguma razão de serviço, tenha passado pela ilha das Flores[20]. Foi provavelmente nessa altura que conheceu José Constantino da Silveira e Almeida e que teve a oportunidade também de conhecer suficientemente bem a nossa bela ilha para poder depois escrever o capítulo sobre ela que faz parte do seu Glorias e primores de Portugal, publicado em 1889. No final do ano de 1883, Reid Cabral regressa de novo a Lisboa, vindo das Flores[21].
Em 1890 alguém, presumivelmente das Flores, faz uma denúncia contra o florentino Francisco Xavier de Mesquita, chefe do respectivo posto de despacho, em Santa Cruz das Flores. Isso leva a que, no final do ano, Francisco Xavier de Mesquita seja transferido para o Faial, aparentemente a seu pedido, dada a sua situação de denunciado, e leva a que Read Cabral seja encarregado de, numa comissão de serviço, realizar a respectiva sindicância. No seu caminho de Lisboa para as Flores passou por Ponta Delgada, onde matou saudades de amigos e família[22]. A denúncia de Xavier de Mesquita e a sua transferência para o Faial causaram então grande consternação nas Flores, de tal modo que, n’A Ilha das Flores, ano 1, n.º 1, de 10 de Janeiro de 1891, p. 3, se declara sem hesitações que essa transferência é injusta, dadas as qualidades de carácter do visado:
«TRANSFERENCIA
Em consequencia d’uma denuncia dada á Direcção Geral das Alfandega, foi transferido para a ilha do Fayal o Ex.mo sr. Francisco Xavier de Mesquita, chefe do posto de despacho d’esta, e ordenada uma syndicancia á repartição, que elle tão dignamente dirigia.
Esta transferencia, pelas razões que lhe deram causa, impressionou-nos desagradavelmente, assim como a todos que tinham a honra de conhecer de perto o nobre caracter do sr. Xavier de Mesquita, porque na classe dos empregados publicos d’esta ilha não conhecemos пenhum que melhor e mais conscienciosamente saiba cumprir com os seus deveres.
Não pretendemos justificar nem minorar as responsabilidades que caibam ao sr. Xavier de Mesquita, como empregado publico; para isso lá está o relatorio da syndicancia que lhe fará inteira justiça; mas custa-nos ver accusar de irregularidades um empregado, que só mercece louvores pela maneira intelligente e correcta com que sempre tem exercido as suas funcções publicas.
É simplesmente por isto, que não podemos deixar de protestar contra o calumniador que tão vil e tão traiçoeiramente tentou sujar a reputação d’um homem, cuja vida publica, exercida por largos anos, tem sido immaculada.
Como patricio do sr. Xavier de Mesquita sentimos bastante a sua transferencia, tanto mais, quanto ella foi injusta; mas como amigo permitta-nos que lhe demos os parabens por assim ter succedido, pois que o resultado da syndicancia serà satisfação bastante para lhe fazer esquecer os dissabores por que acaba de passar.»
Não é certo quanto tempo demorou a sindicância. Alguns falam em dois meses. Sabemos que a estadia, que não a sindicância, se prolongou devido ao mau tempo. Reid Cabral ficou «cancelado», como hoje dizemos, embora nessa altura isso fosse coisa para semanas — com sorte — ou meses — com azar[23]. O certo é que teve tempo para (re)conhecer a ilha, e os seus problemas, começando pelos do serviço aduaneiro, mas incluindo outros problemas perenes, como o das comunicações. No final de Fevereiro, reproduz-se n’O Fayalense, ano 34, n.º 29, de 22 de Fevereiro de 1891, p. 2, um artigo publicado pouco antes no Ilha das Flores, num número a que não consegui acesso:

«INTERESSES FLORENTINOS
Na Ilha das Flores, folha de Santa Cruz das Flores, lê-se o seguinte com respeito á estada n’aquella ilha do distincto empregado das alfandegas sr. Read Cabral, que pertende solicitar do governo alguns melhoramentos para aquella ilha, muito necessarios ao commercio e serviço maritimo da mesma ilha.
É de esperar que o governo attenda ás ponderações do sr. Read Cabral, que pela sua longa pratica do serviço aduaneiro, e pela seriedade do seu caracter, só pode indicar medidas e providencias de vantagem para o serviço publico.
Diz assim a citada folha:
Retira-se para o continente na proxima viagem do paquete Açor o ex.º commendador Guilherme Read Cabral, dignissimo primeiro official das alfandegas. Como já tivemos occasião de dizer, sua ex.ª veiu aqui em commissão, para syndicar dos actos do ex-chefe do posto de despacho d’esta ilha, o sr. Francisco Xavier de Mesquita.
Mas sua ex.ª não se limitou a desempenhar unicamente a commissão de que tinha sido incumbido, tratou tambem de ver e de se informar de tudo o mais que directa ou indirectamente dizia respeito à repartição que veiu syndicar, e, segundo parece, tenciona propor ao governo, no seu relatorio, que se construam dois armazeus, um no porto velho de Santa Cruz e o outro no caes do Boqueirão, para arrecadação de mercadorias.
Ha muito que se faz sentir a necessidade da immediata construcção d’estas obras, porque um empregado não pode estar responsavel pelas mercadorias que estão armazenadas em casas arrendadas pelos carregadores.
O posto de despacho d’esta ilha é, sem duvida, o mais importante dos Açores, e, que nos conste, não ha outro que não tenha o seu armazem; portanto, não é mais que justiça que o governo mande, quanto antes, construir armazens para arrecadação de mercadorias, n’esta ilha.
Parece tambem que o ex.mo Sr. Read Cabral tenciona propor ao governo, para que seja construido um caes no porto velho de Santa Cruz e para que sejam collocados 3 candieiros de grande força em frente das barras, do mesmo porto e do do Boqueirão, para indicar o rumo que as embarcações devem seguir, quando tenham de entrar de noite.
Estes dois melhoramentos são mais que uteis, são humanitarios.
Os pobres maritimos d’esta villa passam trabalhos inauditos porque não teem um caes onde possam encostar, e só á força de muito trabalho, e com enormes difficuldades, é que conseguem descarregar as suas embarcações.
O povo d’esta ilha ficará eternamente reconhecido pelos esforços que sua ex.ª tem empregado e tenciona empregar, para conseguir estes grandes melhoramentos.
Nós, como florentinos, não podemos deixar de testemunhar a sua ex.ª a nossa eterna gratidão, pelo interesse que tem mostrado pela nossa terra natal, e fazemos votos para que os seus esforços sejam coroados do melhor exito.»
Reid Cabral revelava-se assim um precioso aliado dos florentinos, que nele depositaram muita esperança.
No final da sua sindicância e «cancelamento», Reid Cabral regressa a Lisboa, passando pelo Faial, onde se demora uns dias, pelo menos, dias esses de jantares e homenagens[24].
Quanto à sindicância, resultou em nada. Ou melhor, resultou no reconhecimento da injustiça das acusações. Xavier de Mesquita pôde, assim, regressar às Flores[25].
Já em Lisboa, com uma disponibilidade impossível quando em viagem, Reid Cabral decide colocar em letra de forma o seu relatório Ilha das Flores, datado de 10 de Junho de 1891. Fá-lo imprimir e, provavelmente, distribuir. É possível que o tenha mandado encadernar em conjunto com o seu livro Glorias e primores de Portugal e que tenha enviado alguns exemplares para as Flores. Terá sido um deles a chegar às mãos, mais de um século depois, de Frederico Fournier, e quase século e meio depois às minhas, em formato digital. Outra possibilidade é o relatório ter sido impresso e enviado por si só para quem importava, inclusive nas Flores, e aí alguém o ter anexado ao seu livro. O que é seguro é que o relatório chegou às mãos do Portugal, Madeira e Açores que, no seu número de 25 de Julho de 1891, ano 7, n.º 325, p. 1, lhe dá o devido destaque:
«Interesses insulares
Ilha das Flores
Sob este titulo o ex. sr. Guilherme Read Cabral, illustrado 1.º official das alfandegas, acaba de publicar um interessante folheto, em que trata d’algumas das mais urgentes necessidades da ilha das Flores, sob o ponto de vista commercial e fiscal.
O sr. Read Cabral, tendo ido ás Flores, ao que nos consta, em desempenho de uma importante commissão de serviço aduaneiro, não despresou o ensejo de estudar de perto as necessidades d’aquella terra e de lhe prestar um relevante serviço pondo-as em evidencia perante os poderes publicos.
Fallando, pois, da ausencia dos elementos que são sempre indispensaveis á commodidade commercial e consequentemente ao seu desenvolvimento, e consignando o facto, muito excepcional, de que a ilha só possue 14 kilometros, approximadamente, de estrada regular, diz s. ex.ª com muita justiça que—“póde bem dizer-se abandonada aos seus proprios recursos e julgada insusceptivel d’outra exploração que não seja a da emigração para a America, que ameaça despovoal-a, roubando aos trabalhos do campo os seus melhores braços.”
No intuito de concorrer para melhorar a situação das Flores, o sr. Read dando razão fundamentada dos seus justos reparos, propoz e solicitou perante a administração geral das alfandegas o seguinte:
1.º—Construcção de duas canôas, sendo uma para o serviço fiscal em Santa Cruz e outra para egual serviço na Fajā Grande;
2.º—Acquisição d’um predio com as condições necessarias para repartição aduaneira e armazens para recebimento das cargas descarregadas em Santa Cruz;
3.º—Construcção d’um caes no porto d’esta villa collocacão n’este d’um guindaste e assentamento de carris de ferro até aos armazens;
4.°—Illuminação do porto em noites sem luar por meio de dois focos de luz de differente côr, collocados de modo a indicar á navegação o caminho seguro para a entrada no porto;
5.°—Aproveitamento da bahia de S. Pedro, que fica ao norte, para ali se effectuarem descargas quando o tempo as não permitta em Santa Cruz;
6.°—Construcção de um abarracamento na referida bahia para ali se effectuar, em taes casos, a arrecadação e despacho de mercadorias.
É evidente a importancia fiscal e economica da adopção d’estas sensatas medidas de administração.
Considerando, porém, em relação ao plano que para a execução d’estas o illustre funccionario apresenta, será para lamentar que ellas não sejam levadas á pratica, como o estado decadente da ilha das Flores reclama, e que tanto contribuiria para o seu desenvolvimento commercial e economico.
As obras, segundo aquelle plano, não excederiam a 10:000$000 réis, dos quaes percisava-se despender, desde já, somente 4:500$000 réis, por isso que o complemento d’aquellas se poderia realisar gradualmente conforme as forças do thesouro publico.
Bem pequeno será, pois, o sacrificio e enormes as vantagens d’elle resultantes.
Se, porém, ás medidas indicadas e atinentes a conciliar os interesses do fisco com os legitimos interesses do commercio, se considerar sobre a fertilidade do solo das Flores, circumstancia que o illustrado funccionario põe em evidencia quando, referindo-se á pequena parcella da ilha que se acha agricultada, nota que, não obstante, é ella assáz sufficiente para satisfazer as necessidades da sua população, dando ainda excedentes para exportação, vê-se quanto remunerados seriam os esforços que se fizessem para desenvolver a industria agricola fiorentina, mórmente attendendo á especial posição geographica da ilha das Flores, que, collocada no extremo oeste do archipelago, seria a que mais commodidades poderia offerecer á grande navegação que demanda a Europa.
O sr. Read Cabral veio com a sua publicação trazer á discussão um assumpto de reconhecida importancia vital para as Flores e que, estamos certos, será tido na conta que merece pelo governo da nação.
São difficeis as circumstancias em que, n’este momento, se encontra o paiz, bem o sabemos, mas, tambem, é n’este momento angustioso que todos quantos se interessam pela patria, pensam e proclamam a necessidade de nos restabelecermos por meio do trabalho.
Pois que não esqueçam os Açores, essas preciosas terras espalhadas pelo Atlantico; que não esqueça, como até aqui, a ilha das Flores, a favor da qual se levantou a auctorisada voz do sr. Read Cabral demonstrando o que ella é e quanto vale.»
Esperanças renovadas, por isso, nas Flores. Alguém de peso, de fora, que lá estivera, que vira, que sentira as dificuldades florentinas, e agora advogava pelos florentinos. O relatório chegou cá no final de Julho de 1891, provavelmente. Em 2 de Agosto de 1891, A Ilha das Flores, ano 1, n.º 19, p. 3, refere-se-lhe. Note-se que este velho jornal florentino tinha como redactor principal Nicolau Florentino[26] e como redactor-gerente Francisco Rodrigues Armas[27]. O artigo não deixa margem para dúvidas. Read Cabral caiu definitivamente nas simpatias dos florentinos:

«A Ilha das Flores
Devido ao favor de um amigo lemos o pequeno opusculo, que com o titulo acima publicou o snr. Guilherme Read Cabral, que esteve dois mezes entre nós n’uma commissão de serviço aduaneiro.
O distincto funccionario pelo seu trato affavel soube grangear as sympathias dos florentinos, que estão muito penhorados pelo brado que s. ex.ª acaba de levantar em pró dos nossos interesses locaes.
Com quanto a monographia seja resumida, engloba n’uma exposição clara e bem redigida interessantes alvitres sobre o muito que ha a fazer por aqui em materia de melhoramentos publicos.
Oxalá que as propostas consignadas pelo snr. Read Cabral, mereçam mais attenção da parte dos poderes publicos, do que a temos logrado com as nossas incessantes reclamações.»
Pelo final do ano, no entanto, as esperanças começavam a perder-se. Reinstalava-se o spleen florentino, um spleen especial, que conjuga estranhamente o conformismo de quem sabe ser inútil o protesto, com o inconformismo de quem, apesar disso, nunca deixa de protestar. A 13 de Novembro de 1891, no Portugal, Madeira e Açores, ano 8, n.º 339, p. 2, lá se vai dizendo que «nada foi resolvido e lá continuam os habitantes d’aquella boa terra a soffrer as consequencias d’um tal estado de coisas»:
«O posto de despacho na ilha das Flores
Já aqui tornámos patente quanto urge providenciar para que este posto de despacho seja dotado com um armazem apropriado ao movimento commercial etc. do posto de Santa Cruz e onde possam ser armazenadas as mercadorias que ficam sob a fiscalisação aduaneira.
Esta providencia para a qual pedimos a attenção da administração superior não pode ser considerada como um superfluo, mas sim como uma medida de inteira equidade.
Em todos os pontos do paiz, onde existem estações aduaneiras, ha um ou mais armazens que, ou sejam propriedade do estado ou por este alugados, servem para deposito das mercadorias que tem de ser submettidas a despacho. Na ilha das Flores porém não acontece assim.
Ali, abrindo-se uma excepção odiosa, são os proprietarios das mercadorias quem fornecem armazens para estas por cuja entrada tem de pagar os respectivos direitos; e são portanto elles ainda quem pagam o aluguer d’esses armazens.
No relatorio do illustre funccionario aduaneiro, sr. Read Cabral, que ali esteve ha poucos mezes, e de cujo trabalho demos desenvolvida noticia, achava-se minuciosamente tractado este assumpto; e sabemos que s. ex. fez altos esforços para conseguir se attendesse ás diversas necessidades commerciaes da ilha das Flores por elle apontadas e comprovadas.
Até hoje porém nada foi resolvido e lá continuam os habitantes d’aquella boa terra a soffrer as consequencias d’um tal estado de coisas.»
Em 1892, Reid Cabral é de novo transferido, desta vez de Lisboa para o Funchal[28]. É no Funchal que pede a Augusto Maria Camacho[29] o seu retrato de corpo inteiro. Mal tem tempo para se instalar, no entanto. Um ano depois, é nomeado Governador Civil do Distrito da Horta, para grande felicidade dos florentinos, que viam assim um amigo, alguém que compreendia bem as necessidades da ilha, tomar o poder na remota capital de distrito[30]. Toma posse a de 14 de Setembro de 1893. São meses de esperança. Poucos. A 4 de Janeiro de 1894, é exonerado do cargo, a seu próprio pedido[31]. O Florentino, ano 4, n.º 189, de 20 de Janeiro de 1894, p. 2, noticia-o:
«Foi exonerado a seu pedido de Governador Civil da Horta o ex.mo commendador Read Cabral. Sua ex.ª tomou esta rezolução, em consequencia da guerra acintosa e desleal que lhe promoveram os politiqueiros progressistas do Fayal.»
Um mês mais tarde, O Florentino[32] tenta dar uma nota de esperança, num editorial de José Lucio de Mendonça e Figueiredo:
«Santa Cruz
Os melhoramentos materiaes n’esta ilha teem sindo insignificantissimos, se attendermos ao grande desenvolvimento que se tem dado,—principalmente n’estes ultimos 20 annos—a tudo o que é de interesse geral nas outras ilhas Açorianas.
Esta desigualdade revoltante no que diz respeito a beneficios, não se dá, como seria para esperar, na destribuição dos tributos, que pagamos limpamente, sem ao menos protestarmos contra a flagrante injustiça que se nos faz.
Uma das maiores fontes de receita do estado, n’esta ilha, é indubitavelmente o Posto de Despacho, e vergonha é dizel-o, esta casa fiscal não tem um armazem seu onde o nosso commerciante deposite as suas mercadorias até que sejam desembaraçadas, nem um guindaste que auxilie a carga e descarga das embarcações.
Estas operações feitas com a maxima difficuldade, e muitas vezes não exentas de perigo para os maritimos que se empregam n’aquelle trafego, trazem comsigo gravissimos inconvenientes para o commercio, que soffre muitos prejuízos com a maneira porque é feita actualmente a descarga das suas mercadorias, maxime se são susceptives de se quebrarem.
Mas apesar de todos as reclamações que se teem feito, nunca fomos attendidos.
Em 1891, vindo a esta ilha n’uma syndicancia ao Posto de Despacho o ex.mo commendador Read Cabral, 1.º oficial das alfandegas, teve occasião de verificar o perigo e força braçal que era necessario desenvolver, para descarregar ou carregar um volume um pouco mais pezado, e com a sua elevada comprehensão e boa vontade de se tornar util aos desgraçados fiorentinos, propoz по seu relatorio ao director geral das alfandegas, que era indispensavel a construcção d’um caes no Porto Velho, o mais importante da villa de Santa Cruz e que não tem um logar onde possa encostar uma embarcação, e para complemento d’este, a montagem d’um guindaste. Sua ex.ª tambem fazia sentir no seu relatorio, os graves inconvenientes da falta d’um armazem que fosse propriedade do estado, para arrecadação das mercadorias, visto ser actualmente o commerciante quem põe um depósito ás ordens do chefe do Posto de Despacho para aquelle fim, evitando por esta forma um vexame e uma despeza inutil no commercio.
Não param aqui as justas reclamações d’este benemerito cavalheiro.
O sr. Reid Cabral, conhecendo pessoalmente a perigosa barra do Porto Velho, que, semeada de escolhos, se torna impraticavel em noites escuras para quem não tem grande conhecimento d’ella, e querendo prestar um serviço homanitario aos florentinos, propoz tambem, que fossem collocados dois focos luminosos, em logar conveniente, que servissem de guia ás embarcações que necessitassem demandal-a de noite.
Infelizmente a politica em Portugal, é a mola real de tudo; não ha interesse nem conveniencias justificadas que se realisem, sem a sua adhesão. E o bem elaborado relatorio do sr. Read Cabral, que não era trunfo politico, ficou no esquecimento como era de esperar.
Posteriormente, sendo nomeado Governador Civil da Horta, instou com o governo para a realização d’aquelles melioramentos e d’esta vez se não conseguio o fim que desejava, foi isso devido á sua pouca permanencia n’aquelle logar.
No entanto, sempre conseguio que as suas propostas viessem a informar aos ex.mos directores das obras publicas e alfandega da Horta, e que o guindaste que requisitou já se ache n’esta ilha.
Pena é, que este não possa prestar serviço algum sem a construcção do caes por não haver logar apropriado onde seja montado.
Se bastasse a boa vontade do sr. Read Cabeal, a sua construçãο não se faria esperar muito, mas infelizmente não basta, é preciso mais alguma cousa do que a boa vontade, é necessario que a politica se metta tambem n’isso.
Quererà ella protelar por mais uma vez as justas aspirações d’esta infeliz ilha?
Parece-nos que não, o actual conselheiro Governador Civil, cuja boa vontade de ser util aos seus administrados, ninguem contesta, prestará a devida attenção ás nossas justas reclamações e continuará a obra do seu illustre antecessor, instando com o governo para a realisação dos melhoramentos que de direito nos compete, pois que ha muitos annos são gosados pelos nossos irmãos Açorianos.
Asim o esperamos.»
Poucos meses depois, o mesmo jornal anuncia a aposentação de Reid Cabral, agora com uns bons 73 anos[33]:
«Foi aposentado a seu pedido o dignissimo primeiro official das alfandegas ex.mo sr. commendador Guilherme Read Cabral.»
Três anos mais tarde, em 1897, com uns 76 anos de idade, Reid Cabral adoece gravemente. Quando, a 27 de Junho de 1897, o Portugal, Madeira e Açores[34] noticia a sua grave doença, já ele havia falecido. E faleceu com ele, de novo, uma esperança sempre renovada de fim do abandono florentino.
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ILHA DAS FLÔRES
A ilha das Flôres, desprovida dos mais importantes elementos de que carece o Estado para uma boa fiscalização e fiel observancia dos regulamentos aduaneiros; destituida completamente dos meios que é do interesse publico proporcionar ao commercio para seu desenvolvimento e commodidade, e dos que a navegação espera para sua segurança e promptidão de carga e descarga; afigura-se, a quem ahi desembarca, estar ainda na primitiva.
Sete kilometros d’estrada nas immediações da capital, Santa Cruz, e outros tantos, aproximadamente, no planalto, mas sem ligação entre si, tornando extremamente difficil e violenta a ascensão da montanha em cuja superficie assenta a campina que constitue a grande superficie da ilha n’uma extensão de dez ou doze leguas quadradas de terrenos incultos, mas abundantes d’agua que lhes fornecem seis lagoas, algumas das quaes d’incomparavel belleza; eis a que se resumem os beneficios que as Flôres têm podido conseguir.
E é por este vasto plateau de difficillimo accesso que tem de transitar os povos nas suas relações entre umas e outras povoações, interceptadas por profundas ravinas e abruptas lombadas que irradiam do centro para as costas maritimas em toda a redondeza da ilha.
Afastada, mais do que nenhuma outra, da metropole; distanciada mesmo, do grupo Açoriano; é a mais desconhecida e por isso a menos favorecida de todas do archipelago.
Visitada mensalmente pelo vapor da carreira insulana, que, em muitas occasiões, apenas consegue lançar em terra as malas sem poder descarregar os generos de primeira necessidade que conduz, com grave prejuizo dos habitantes, e por alguns navios que fazem commercio entre os Açores e os Estados Unidos, sem comtudo encontrarem um porto seguro de descarga; esta ilha póde bem dizer-se abandonada aos seus proprios recursos e julgada insusceptivel d’outra exploração que não seja a da emigração para a America, que ameaça despovoal-a roubando aos trabalhos do campo seus melhores braços.
Dois mezes de residencia nas Flôres deram-me a conhecer as suas necessidades de mais vital interesse e determinaram-me a expôr, pela administração geral das alfandegas, a urgencia em lhe porporcionar alguns melhoramentos mais reclamados para seu desenvolvimento e prosperidade.
Assim, entendi dever propôr e solicitar :
a) A construcção de duas canôas, uma para as visitas, rondas e diligencias fiscaes na capital, Santa Cruz, e outra para a Fajã-Grande na contra-costa da ilha, onde o vapor e outras embarcações se acolhem quando não podem aportar á costa de leste.
b) A acquisição d’um predio que offerece todas as condições para casa de delegação e armazens para recolher toda e qualquer carga de desembarque em Santa Cruz.
c) A construcção d’um caes no referido porto e collocação d’um guindaste para descarga de mercadorias, auxiliando a conducção d’estas para o armazem com o assentamento de uma via ferrea.
d) A illuminação do porto de Santa Cruz em noites sem luar por meio de dois focos de luz, uma branca e outra de côr, dispostas de modo que as embarcações, enfiando-as, possam vencer, sem risco de vida das tripulações e perdimento da embarcação, os rochedos que se espalham nas suas immediações.
e) O aproveitamento da bahia de S. Pedro a dois kilometros da Villa e com exposição norte, convertendo-a em porto de descarga quando os ventos dos quadrantes de leste e sul não permittam estas operações no porto de Santa Cruz.
f) A construcção d’um barracão nas immediações da referida bahia para arrecadação e despacho das mercadorias ahi descarregadas, podendo servir igualmente de Lazareto quando se dê o caso de ser preciso isolar tripulações de navios naufragados ou passageiros.
Passo a desenvolver as sobreditas propostas:
CANÔAS — a)
Nenhuma embarcação possue a delegação das Flôres para as visitas e serviço fiscal.
Indico a conveniencia de se mandar proceder á construcção de duas canôas na cidade da Horta, onde se trabalha com perfeição, custando cada uma 135$000 réis[35].
Tanto n’um e outro porto (Santa Cruz e Fajã Grande) o serviço, limitado e eventual, não carece de tripulações pagas como nos portos de grande movimento, e por isso deixei um pessoal contractado, caso seja approvado o meu alvitre, pela fórma seguinte:
Em Santa Cruz, um patrão e quatro remadores, sendo aquelle remunerado com 86$400
e estes com 216$000
Na Faja Grande
Patrão 57$600
Remadores 115$200
________________
Total 475$200
Por esta fórma ha uma economia annual de 663$600 réis, por isso que, sendo os salarios eguaes aos estabelecidos por lei, mesmo os de 2.ª classe, importaria esta despeza em 1:138$800 réis.
EDIFICIO PARA CASA DE DELEGAÇÃO E ARMAZENS — b)
Ha pouco, segundo me consta, esteve contractada a compra d’este predio por 4:800$000 réis.
Depois de varias conferencias com o seu proprietario, convenci-o a fazer a venda por 4:000$000, parecendo-me que convém fazer a acquisição, sem demora, d’este edificio, unico nas condições precisas para este effeito, e que satisfaz perfeitamente a todas as conveniencias fiscaes e commerciaes.
É um predio de moderna e solida construcção, assenta no mesmo nivel com o projectado caes e domina o porto.
Todo o serviço de descarga, actualmente, é feito a braço, de dentro dos barcos. Estes trabalhos, violentos, demorados e perigosos, evidenciam a necessidade de adoptar outro processo facil, prompto e menos despendioso.
Para melhor fundamentar a minha proposta devo demonstrar como o serviço é feito.
Como a casa da delegação se compõe apenas de dois pequenos quartos, apenas sufficientes para o expediente de secretaria, as mercadorias, depois de descarregadas, passam para depositos fornecidos pelo commercio, e como não ha pessoal para a sua conferencia com as folhas de descarga e conducção, é só no acto da verificação que estas são legalizadas.
O commercio, á proporção que as precisa despachar, manda conduzir os respectivos volumes á delegação, entrando um de cada vez por não comportar mais, e, se não ha descaminho ou troca durante o transito para os diversos depositos e d’estes para a verificação, é devido simplesmente á probidade dos importadores, e ao respeito que ainda ha entre aquelle povo pela lei e pela authoridade.
Adquirido que seja o predio em questão, a actual casa que serve de delegação e que é do estado, deve entregar-se á guarda fiscal, economizando-se assim 36$000 réis por anno, que tanto custa a casa onde presentemente está a sua secretaria.
CAES NO PORTO DE SANTA CRUZ — c)
Aproveitando uma restinga de pedra na entrada do porto faz-se, segundo a planta levantada pelo zelozo conductor d’obras publicas nas Flôres e respectivo orçamento, um caes acostavel pela quantia de 2:401$600 réis. Estes trabalhos acham-se juntos á minha exposição official de 7 de fevereiro ultimo[36].
O guindaste deve obter-se em alguma das alfandegas aonde o processo manual, por incompativel com o crescente movimento commercial, foi substituido pelo emprego d’outros a vapor.
ILLUMINAÇÃO — d)
É indispensavel este complemento á fiscalisação por isso que nenhum práctico, por mais habil que seja, se affoita a entrar de noite sem uma luz que lhe indique o rumo a seguir e sem a qual corre perigo a vida dos tripulantes.
Os candieiros, de luz poderoza, e respectivas columnas estão orçados em 60$000 réis.
BAHIA DE S. PEDRO — e)
A dois kilometros de Santa Cruz e n’um escampado, existe um porto chamado — Boqueirão. É por onde se faz a descarga e embarque de mercadorias quando os ventos do quadrante do sul não permittem estas operações no porto d’aquella villa.
Ahi não ha abrigo de qualidade alguma e o commercio reclama a construcção d’um barracão para esse effeito.
Pedi pelas obras publicas planta e orçamento para essa obra; porém, depois de observações diarias, convenci-me que se deveria aproveitar a bahia de S. Pedro para porto de descarga.
É n’esta bahia que fundeam, tanto o vapor como outras embarcações quando descarregam n’aquelle ponto da costa e, nas occasiões de vento leste, sul e oeste, estão como n’um lago, tão tranquillas estão as aguas.
Mas a descarga faz-se no porto do Boqueirão, onde com vento sul e principalmente leste, o mar está mais ou menos agitado, difficultando as respectivas operações e encharcando as mercadorias. O mal maior porém está na travessia para bordo, ou vice-versa, por isso que os barcos têm de dobrar um cabo, que se projecta na costa entre este porto e a referida bahia, e então não ha só inconveniente, ha perigo.
Actualmente a configuração da costa que circumda a bahia de S. Pedro, não permitte o embarque; mas com a modica quantia de 800$000 abre-se á navegação e commercio das Flôres um porto como em nenhuma das ilhas do archipelago ha outro em condições naturaes tão vantajosas.
Exposto apenas ao norte, fica ao abrigo das terras altas que a fecham por todos os outros lados e a natureza parece haver proporcionado aqui tudo para esse fim.
Uma corrida de lava nos tempos geologicos abriu, evidentemente, um largo sulco semelhante a um leito de ribeira por entre a penedia até junto ao mar, onde a rocha entra a prumo, podendo ahi talhar-se escadaria e patins e fazer-se varadouro para barcos. A estrada, já meia feita pela natureza, com pouca despeza se melhora, ficando assim aberto um porto em condições excepcionaes de segurança, a que accresce a pequena distancia entre o fundeadouro dos navios e a terra. Consultando o commandante do vapor Açor, que navega ha muitos annos para as Flôres, respondeu-me em carta que juntei á minha exposição official de 31 de Março[37] último, em termos que corroboram perfeitamente o que levo exposto.
É[38] ahi pois que eu aconselho se construa o barracão, que ao mesmo tempo servirá de Lazareto.
São estes os melhoramentos propostos e a sua despeza detalhada a seguinte:
Acquisição de duas canôas construidas na cidade da Horta a 135$000 cada uma 270$000
Seus accessorios 100$000
Compra do predio para casa da delegação e armazens 4:000$000
Construcção do caes no porto de Santa Cruz 2:401$600
Obras na bahia de S. Pedro 800$000
Barracão no mesmo porto 1:700$000
Dois candieiros e accessorios 60$000
Assentamento dos mesmos, conducções e despezas miudas 70$000
_________________
9:401$600
A que accresce as obras complementares do armazem em Santa Cruz para servir de casa de delegação 600$000
_________________
10:001$600
Desembolso de prompto ha porém tão sómente o da
acquisição do predio para delegação 4:000$000
Das canoas e accessorios 370$000
Dos candieiros e columnas 60$000
Conducções e mais despezas 70$000
_________________
4:500$000
Todas as mais obras progredirão com o tempo e a sua despeza na devida proporção.
Não posso deixar de notar que, emquanto as delegações
de Santa Maria cujo rendimento annual é aproximadamente de 800$000
De Villa Franca 400$000
De S. Jorge 7:000$000
Da Graciosa 4:000$000
Do Pico 400$000
as quaes, todas, tem embarcações para as visitas e fiscalisação, proporcionando ao commercio todas as commodidades necessarias para arrecadação de mercadorias e seu despacho, a ilha das Flôres, cujo rendimento se aproxima de 12:000$000, não possue nenhum d’estes elementos constitutivos de boa administração e prosperidade.
Os emolumentos do trafego, cuja cobrança foi mandada sustar a requerimento do commercio das Flôres e com justo motivo, pois na falta de caes, guindaste e pessoal era o mesmo commercio que fazia todo o serviço e carregava com toda a despeza de descarga e conducções, devem produzir annualmente 800$000.
O maximo que poderá custar o pessoal, em parte effectivo e em parte adventicio, são 300$000 réis.
Ha pois um saldo a favor de 500$000 réis.
D’esta quantia póde sair a despeza com a illuminação do porto, orçada em 132$000, incluindo a gratificação ao encarregado da mesma, ficando ainda 368$000 e importando a remuneração ao pessoal das canôas em 475$200, como já fica dito, o encargo do thezouro com as duas tripulações fica reduzido a 107$200 réis.
Proporcionada que seja ao commercio das Flôres armazenagem para seus effeitos e pessoal para o serviço de descarga, cessa todo o motivo para a não cobrança do emolumento do trafego, que, como fica demonstrado, cobre todas as despezas proprias e faz face a outras muitas.
Não posso concluir sem arriscar duas palavras attinentes aos recursos naturaes da ilha das Flôres, e que, se não teem escapado á sagacidade de seus habitantes, estão ainda inertes por falta d’iniciativa e capital; mas essa iniciativa nunca apparecerá sem os elementos que actualmente faltam.
Esta ilha é muito mais fertil e susceptivel d’explorações lucrativas do que se suppõe.
Apenas alguns valles, pendores de grandes quebradas e os terraplenados da sua orla de costa estão sob a acção da cultura, mas as forças productivas do solo são tão ricas que o pouco, actualmente aproveitado, satisfaz ás necessidades da sua população e ainda as excedem, permittindo a exportação d’alguns cereaes e legumes, e o que falta em quantidade sobeja em qualidade.
Todos os fructos da terra são excellentes. O inhame muito apreciado pelas suas qualidades nutrientes e sabor, e constitue uma parte importante na alimentação: o trigo produz um pão saborozo como em parte alguma se come: o leite, a manteiga e as carnes participam da excellencia das pastagens, e o clima rivaliza em salubridade com os melhores do mundo.
A posição geographica das Flôres, o mais avançado ponto occidental no Atlantico e portanto o mais proximo do continente Americano, facilita aos habitantes d’aquellas regiões, precizados de mudança d’ares, uma estação admiravelmente bem situada, encurtando, meio por meio, as viagens e as despezas, e aonde poderão readquirir, em pouco tempo, a saude deteriorada, tanto mais que se estabeleceram, ultimamente, novas carreiras a vapor entre os Estados-Unidos e Açores tocando nas Flôres.
O vasto plateau nos altos da ilha offereceria deliciosa residencia nos mezes calmosos do anno e amplo campo d’exploração á industria, mórmente na creação de gado para exportação e fabrico de manteiga e queijo, e quando apertasse o rigor do inverno encontraria immensos tractos de terra nos amenos valles das muitas quebradas da costa, presentemente em completo abandono.
Abundantissima em agua por toda a parte, não póde haver receio de seccas. — A verdura é opulenta e constante: os productos são de primeira ordem, e os seus habitantes, naturalmente intelligentes e hospitaleiros, são d’uma indole excepcionalmente boa e d’uma honradez inexcedivel. Eis o que é, a traços largos e imperfeitos, mas verdadeiros, a ilha das Flôres.
Lisboa, 10 de Junho de 1891.
Guilherme Read Cabral.
[1] Adicionei livremente «Júnior» e «Sénior» aos nomes para tornar a leitura mais fácil.
[2] 1775, segundo O Açoriano Oriental, n.º 212, de 11 de Maio de 1839.
[3] Há uma rua com o seu nome em Ponta Delgada, no Rosto de Cão (Livramento).
[4] Usualmente os editais eram sobre arrematações de mercadoria. Mas Read Cabral fazia publicar regularmente também os movimentos de mercadoria, dados muito interessantes para os historiadores da economia da época (e.g., ver a página 4 do n.º 439, de 24 de Julho de 1861, d’O Melrinho : periodico dos pobres michaelenses).
[5] Note-se que Read Cabral foi promotor do cultivo e processamento da espadana, Phormium tenax J.R.Forst. & G.Forst, para produção de papel, tendo mesmo obtido uma patente para tal. Ver, por exemplo, a página 2 d’O Partido Popular, ano 4, n.º 155, de 18 de Janeiro de 1879 ou a página 2 do Açoriano Oriental, ano 44, n.º 2270, de 21 de Setembro de 1878.
[6] Ângela Santa Clara, de 1895, por exemplo.
[7] Um Novo Mundo, também de 1895, e No interior da terra e nas profundezas do mar: romance scientifico, de 1897 (póstumo), por exemplo. Sobre Ângela e Um Novo Mundo disse Francisco Maria Supico (Lousã, 1 de Novembro de 1830 — Rosto de Cão, Ponta Delgada, 20 de Abril de 1911) n’A Persuasão, ano 34, n.º 1766, de 20 de Novembro de 1895: «A Angela e um Novo mundo, são livros que honram muito quem os escreve, que se acceitam com gosto, lêem e relêem com vivo interesse, e se recommendam com o maior prazer.»
[8] Em pleno Atlântico, de 1879, ou Christovão Colombo, de 1893, por exemplo.
[9] Revista geral de historia antiga e moderna, de 1874, ou Glorias e primores de Portugal, de 1889, por exemplo. Em 1903, no Album Açoriano, editado por António Baptista (Horta, 16 de Dezembro de 1865 — Capelo, Faial, 22 de Julho de 1927), é reproduzido um extracto desta obra, depois de uma curta biografia do autor:
«Guilherme Read Cabral foi d’estes escriptores michaelenses que deixaram de si memoria preduravel, porque a sua obra, ainda que não seja notavel pelos primores da forma, hoje das mais apreciadas qualidades n’um homem de lettras, é sobremaneira instructiva e util, pela materia de que versam quasi todos os seus livros.
O assumpto predominante, pois, da maior parte d’elles, é a historia dos Açores, da qual Read Cabral nos fornece interessantissimas notas.
Versejou tambem; chegou a publicar um volume de poesias com o titulo: Em Pleno Atlantico. Mas foi na historia que elle se distinguiu, sendo o mais notavel dos seus livros — Glorias e Primores de Portugal.
É d’esse que extrahimos o artigo que se segue, sobre a batalha da Ladeira da Velha, na ilha de S. Miguel.
Além d’esses dois livros, publicou ainda um Compendio de Legislação Fiscal; Revista Geral de Historia Antiga e Moderna; No Seio da Terra e nas Profundezas do Mar, etc.
Os governos galardoaram os seus meritos, fazendo-o Commendador da Ordem de Christo e Cavalleiro da Torre e Espada. Na ilha do Fayal, onde residiu algum tempo, foi Read Cabral consul da Inglaterra.»
SÉDE DA EMPREZA — Calçada de S. Francisco, 6, rez-do-chão E – LISBOAAntónio Baptista Lisboa – Flores na pág. 601 [777].pdf
[10] A Sua Alteza Real o Serenissimo Senhor Infante D. Affonso Henriques Duque do Porto. Dedica e Consagra com Previa Licença e Com o Mais Profundo Respeito. O Auctor., de 18—.
[11] [O Cultivador: Periodico Agricola, publicado mensalmente, Ponta Delgada, 1873, ano 1, n.º1, de 15 de Janeiro de 1873, página 1.]
[12] [Prefácio da Revista Geral de Historia Antiga e Moderna. Em Uma Serie de Cartas. Com Reflexões Sobre as Causas e Consequencias D’Aquelles Acontecimentos que Teem Produzido Mudanças Notaveis No Estado Geral da Humanidade. Pelo Auctor da Revista Geographica e Historica do Mundo; Das Cartas Sobre o Estudo Político da Europa; Da Historia Natural, Etc, Etc., versão de Guilherme Read Cabral, membro correspondente da Academia Philomatica do Rio de Janeiro. Publicado em Ponta Delgada em 1875.]
[13] [Compendio da Legislação Fiscal, de Guilherme Read Cabral, publicado em Ponta Delgada em 1869.]
[14] [Em Pleno Atlântico, publicado em Ponta Delgada em 1879.]
[15] Uma boa descrição da genealogia de Read Cabral encontra-se n’A Persuasão, nos números 1850 e 1851 do ano 36, de 30 de Junho e 7 de Julho de 1897, no n.º 89 da série «Excavações» de Francisco Maria Supico (Lousã, 1 de Novembro de 1830 — Rosto de Cão, Ponta Delgada, 20 de Abril de 1911), onde se faz a biografia de seu tio e padrasto William Harding Read Sénior (Portsmouth, 24 de Agosto de 1774 — Ponta Delgada, 6 de Maio de 1839).
[16] Só a título de exemplo, um poema saído no Almanach insulano para Açores e Madeira estatístico, historico e litteratio para o anno de 1874, por A. Gil, Augusto Ribeiro e F. J. Moniz de Betterncourt, publicado em 1873, sobre Tommaso Aniello d’Amalfi, conhecido por Masaniello (Nápoles, 29 de Junho de 1620 – Nápoles, 16 de Julho de 1647), pescador e vendedor de peixe italiano, protagonista da grande revolta que, de 7 a 16 de Julho de 1647, viu a população napolitana insurgir-se contra a pressão fiscal imposta pelo governo vice-real espanhol:
MAZANIELLO
Sonhaste honras e grandezas, \ Ambicionaste ser rei, \ Sem direito, e sem os foros \ Que vem de Deus e da lei !
Insurreccionaste um povo \ Com teu brado seductor ! \ … E o povo repéte, — abaixo \ Tributo e recebedor !
Ergueste a voz retumbante, \ Alçaste teus braços nus, \ E disseste-lhe… és martyr ! \ Não aceites essa cruz!
Uma voz assim erguida \ Foi um raio entre a grei : \ Viva por Mazaniello ; \ Viva… viva o novo rei !
E o povo no seu delirio \ Em seus braços o ergue ao ar. \ …Pescador, porque largaste \ Tuas redes no alto mar ?
De pé, sobre dez mil braços, \ Sobre um throno palpitante, \ Julgaste-te rei do mundo \ E fizestes-te arrogante.
N’esse throno improvisado \ Eis o improvisado rei… \ Espesinho a humanidade, \ Pensa elle, calcando a grei.
Mas, das frontes abatidas \ Uma só se não curvou, \ E um olhar, clarão sinistro, \ Mazaniello fitou.
Pescador, porque deixaste \ Tuas redes no alto mar ? \ Lá só brilha o raio, e aqui \ É o punhal que vês brilhar.
Eis que o solio d’um só dia \ Vacilla, desaba e cae ! \ Pescador, porque deixaste \ O barquinho de teu pae ?
E tremenda foi a queda : \ De mais alto, mais fatal. \ Ainda mal no chão de rojo \ E sobre elle já o punhal !
………………
De Mazaniello, o cadaver \ Jaz inerte em lôdo immundo : \ Pescador, porque deixaste \ As ondas do mar profundo ?
Ponta Delgada, julho de 1873.
GUILHERME READ CABRAL.
[17] Note-se que José Constantino da Silveira e Almeida importou dos EUA, em 1856, os dois primeiros
botes baleeiros dos Açores, que trouxe para o porto da Fajã Grande. Em 1860, transferiu-as para Santa
Cruz e entregou-as a oficiais, criando a primeira armação costeira da baleação dos Açores. Foi recebedor da comarca das Flores, segundo O Amigo do Povo, ano 1, n.º 28, de 16 de Julho de 1870. N’O Fayalense, ano 16, n.º 44, de 15 de Junho de 1873, apresenta-se a sentença, que o ilibou, de Luiz da Costa d’Azevedo Coutinho, em processo decorrido em Santa Cruz das Flores que o opôs a Estulano Augusto Bicho Flores, comerciante. Ver também O Fayalense, ano 16, n.º 35, de 13 de Abril de 1873, onde Bicho Flores responde à sua ameaça de processo. N’O Atlantico, ano 18, n.º 33, de 29 de Janeiro de 1880, Constantino Xavier de Mesquita, administrador do Concelho da Villa das Lajes, publica uma carta praticamente desafiando-o para um duelo por ter chamado aos membros do partido progressista das Flores «vis bandalhos» e «trastes». Foi nomeado substituto do juiz de direito das Flores, segundo o Portugal, Madeira e Açores, ano 7, n.º 292, de 20 de Novembro de 1890 e ano 8, n.º 370, de 5 de Julho de 1892, em conjunto com José Lucio de Mendonça e Figueiredo, que foi proprietário e editor de O Florentino.
[18] Provavelmente filha de António Fernando Armas (27 de Maio de 1866 —) e de Emília Margarida de Mendonça (1868–), ele filho de José Jacinto Armas da Silveira (7 de Dezembro de 1820), proprietário e comerciante, vereador e presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz das Flores, juiz substituto da comarca das Flores e agente consular da França, e de Maria Fernando de Mesquita Henriques (1841–), e neto de António José Armas (30 de Março de 1777 —), vereador e capitão de ordenanças. Ver Genealogias da Ilha das Flores, de Francisco António Nunes Pimentel Gomes, 2017.
[19] No Açoriano Oriental, ano 43, n.º 2224, de 3 de Novembro de 1877, p. 3: «Nomeação. Consta que o exm.º sr. Guilherme Read Cabral, fôra nomeado 1.º official da alfandega de Lisboa.»
[20] N’A Persuasão, ano 22, n.º 1127, de 22 de Agosto de 1883, p. 3: «—Tem estado na ilha das Flores, em serviço publico, os srs. Read Cabral e sub-inspector d’instrucção primaria Saldanha e Albuquerque.»
[21] N’O Fayalense, ano 27, n.º 21, de 23 de Dezembro de 1883-12-23: «—No Benguella partia para Lisboa o sr. Guilherme Read Cabral, por ter terminado a commissão que o trouxe aos Açores.»
[22] No Portugal, Madeira e Açores, ano 7, n.º 297, de 27 de Dezembro de 1890, p. 3: «—Passou por esta cidade o sr. Guilherme Read Cabral, primeiro official das alfandegas cavalheiro muito esclarecido e de superiores qualidades. Ha muitos annos que não vinha a esta terra, sua patria, e por isso a sua inesperada apparição aqui, foi um grande alegrão a muitissimos amigos que tem n’esta cidade, e para sua illustre familia de grandissimo prazer. O illustre funccionario vinha encarregado d’uma commissão de serviço para a ilha das Flores e para lá partiu no dia seguinte ao da sua chegada a S. Miguel.»
[23] Na Gazeta da Relação, ano 24, n.º 3562, de 24 de Janeiro de 1891, p. 2: «Não voltou da ilha das Flores, o sr. Guilherme Read Cabral, 1.° official das alfandegas, por não permittir a bravesa do mar que o Açor tomasse passageiros n’aquella ilha.»
No Diario de Annuncios : folha noticiosa e commercial, ano 7, n.º 1812, de 18 de Fevereiro de 1891, p. 2: «É esperado no paquete Açor onde regressa ao continente o exm.º sr. commendador Guilherme Read Cabral, primeiro official das alfandegas, que foi á ilha das Flores em commissão de syndicancia do posto de despacho da mesma ilha.»
[24] N’O Fayalense, ano 34, n.º 30, de 1 de Março de 1891, p. 3: «Tem sido muito obzequiado na sua estada n’esta cidade o sr. conselheiro Guilherme Read Cabral. Eu sua honra tem havido varios jantares a que sua ex.ª tem assistido, sendo no dia 24 offerecido pela ex.ª sr. baroneza de Roches, no dia 25 pelo sr. Manoel Cardozo Machado de Bettencourt, e no dia 26 pelo sr. visconde de Sant’Anna.»
N’A Evolução, ano 6, n.º 209, de 11 de Março de 1891, p. 3: «De passagem das Flores para Lisboa esteve entre nós o sr. Read Cabral distincto director das alfandegas, onde foi em commissão. Sua ex. foi muito obsequiado no Fayal, tendo-lhe offerecido os srs. dr. Arriaga, governador civil, um explendido baile, e o sr visconde de Santa Anna um rico jantar.»
[25] Mas não por muito tempo. No Portugal, Madeira e Açores, ano 9, n.º 385, de 28 de Outubro de 1892, p. 3:
«—Parece que volta para aqui o encarregado do serviço do posto de despacho da alfandega na ilha das Flores, o sr. Francisco Xavier de Mesquita, devido a caballa urdida ali contra aquelle funccionario.
Não ha muito que, pelo mesmo motivo, para aqui veio algum tempo o sr. Mesquita, regressando ao seu logar, em virtude do resultado da syndicancia a que o governo mandou proceder sendo considerado o sr. Mesquita, como um empregado zeloso, e muito honrado. D’elle fez as melhores referencias o sr. Read Cabral encarregado da missão de desenredar a meada.
Agora, repete-se o facto!
O sr. Mesquita tem nas Flores quem com elle não sympathise, e esse quem ou alguem, consegue sempre d’esta contradança.
Lamentamos o facto, que causa bem má impressão em quantos conhecem e apreciam as boas qualidades d’aquelle empregado e cavalheiro apreciavel.
O sr. Francisco Xavier de Mesquita é um empregado serio e muito distincto. Razão porque é combatido.»
[26] Na realidade António Maria de Freitas (Santa Cruz das Flores, 10 de Fevereiro de 1859 — Lajes das Flores, 1 de Agosto de
, professor e jornalista, filho de Jerónimo Lino de Freitas e de Isabel Filomena de Freitas, e neto paterno de António de Freitas, fundador da ermida, depois igreja, do Mosteiro, suposto pirata, na mitologia moderna, e pai da pintora Filomena Albertina de Mourão Freitas (1889-1939).
[27] Talvez o Francisco Rodrigues Armas (1863 — Santa Cruz das Flores, 21 de Agosto de 1905) casado com Maria Leonor Henriques (1871–) e filho de Manuel Rodrigues Carneiro Armas e de Maria de Jesus. Em vão procurei ligação entre Francisco Rodrigues Armas e Maria Antónia Mendonça Armas, que autografa o exemplar do livro de Frederico Fournier. Ver Genealogias da Ilha das Flores, de Francisco António Nunes Pimentel Gomes, 2017.
[28] Na Gazeta da Relação, ano 25, n.º 3754, de 23 de Abril de 1892, p. 2: «-Dá-se como certo que o sr. Read Cabral vae dirigir a delegação aduaneira do Funchal.»
[29] Segundo nota no Arquivo e Biblioteca da Madeira, «Augusto Maria Camacho nasceu na freguesia de São Pedro, concelho do Funchal, a 11 de Novembro de 1838, sendo filho de Francisco Militão Camacho e de Maria Helena Pombo. Faleceu a 27 de Agosto de 1927 na freguesia da Sé, no Funchal. Casou em primeiras núpcias com Maria Joana Jardim, a 13 de Fevereiro de 1866, na paróquia de São Pedro. Deste casamento nasceram dez filhos. Casou em segundas núpcias com Elvira Sampaio, a 1 de Setembro de 1897, na paróquia da Sé. Deste casamento nasceu um filho. Até 1879, ano do nascimento da sua filha Joana, é encadernador e morador à Praça da Constituição. A partir do ano de nascimento da sua filha Corina, em 1880, passa a ter como profissão fotógrafo.»
[30] No Portugal, Madeira e Açores, ano 9, n.º 430, de 5 de Outubro de 1893, p. 3: «—No vapor Funchal partiu da Madeira para a Horta, o novo governador civil d’aquelle districto, o sr. Guilherme Read Cabral. Sua ex.ª, antes de sair do Funchal, prestou juramento por via telegraphica.»
[31] N’O Fayalense, ano 37, n.º 8, de 11 de Fevereiro de 1894, p. 3: «Por ter sido acceita a exoneração pedida pelo sr. commendador Guilherme Read Cabral da commissão de governador civil d’este districto, foi nomeado para este cargo o sr. conselheiro José de Almeida d’Avila, capitão de fragata, que estava servindo de capitão do porto n’este districto. […]»
[32] O Florentino, ano 4, n.º 191, de 20 de Fevereiro de 1894, p. 1.
[33] O Florentino, ano 4, n.º 194, de 5 de Abril de 1894, p. 2.
[34] No Portugal, Madeira e Açores, ano 13, n.º 608, de 27 de Junho de 1897, p. 3: «Tem estado gravemente doente o distincto, esclarecido e muito estimavel cavalheiro e honrado fuccionario, sr. Guilherme Read Cabral. São geraes os votos pelas suas melhoras.»
[35] Uso o símbolo $ à falta do cifrão.
[36] Talvez os documentos existam ainda nos arquivos.
[37] A data está corrigida à mão. Na versão impressa, rasurada, está 14 de Janeiro.
[38] Na versão impressa, corrigida à mão, está «Era».

