Um Camilo inesperado

Esboços de apreciações literárias por Jose Do Carmo Francisco


Ramalho Ortigão (1836-1915) considerava Camilo Castelo Branco (1825-1890) não só o
mais genuinamente peninsular entre todos os nossos escritores do século XIX mas
também o autor de uma obra que se constitui como o mais vivo, o mais característico
e o mais glorioso documento da actividade artística peculiar da nossa raça. Conhecido
e reconhecido como romancista maior («Amor de perdição»,« A queda dum anjo»,«A
corja») Camilo Castelo Branco exerceu a crítica literária embora debaixo de uma
adversativa solene que consta do livro «Esboços de apreciações literárias», edição em
1969 da Parceria A.M. Pereira com organização Jacinto do Prado Coelho. Vejamos o
parágrafo: «A crítica em Portugal é quase impraticável por duas causas: a primeira é
que somos poucos a escrever e nos apertamos cordialmente a mão todos os dias; a
segunda é que, por este teor de vida, nenhum escritor se faria um nome que o
compensasse dos dissabores e da pouquidade dos lucros».

O seu ecletismo literário (lia quase tudo e sabia quase tudo) levou-o a recensear não só os livros dos autores hoje consagrados mas também outros que o Tempo acabou por atirar para o quase anonimato. No primeiro grupo se podem incluir Soares de Passos, Marquesa de Alorna, Júlio César Machado, Bulhão Pato, Teófilo Braga ou Rebelo da Silva. No segundo lote temos (entre outros) D. João de Azevedo, Ramos Coelho, José Barbosa e
Silva, Coelho Lousada, Ernesto Biester e José Gomes Monteiro. Este livro comporta
uma dupla inscrição: mostra uma faceta menos conhecida de Camilo Castelo Branco e,
ao mesmo tempo, organiza uma ampla corografia literária do século XIX português.

José do Carmo Francisco, escritor


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