
Umbigo
Teu corpo é uma planície pequenina
Onde eu sou um lavrador à procura
De fazer com a língua na tua vagina
Sementeiras de paixão e de ternura.
Faço dos meus lábios uma charrua
Bem levada pela força dum tractor
E à noite quando vem a luz da lua
Teu corpo é uma seara só de amor.
Na tua boca-vulcão sugas o lume
Aceso na pele dos meus sentidos
Enlouqueço a pensar no perfume
Nos dias longe de ti tão perdidos.
A tua boca é uma oitava maravilha
Pois concentra como em ninguém
A força impetuosa de uma filha
E a serena sabedoria de uma mãe.
Exemplo de uma força da Natureza
Teus lábios são ondas de humidade
Onde eu fico submerso na certeza
De que afinal existe a felicidade.
Podes pensar aquilo que quiseres
Não sou ninguém na voz do Mundo
Única entre milhões de mulheres
Aqui te deixo o obrigado profundo.
Por teres trazido â tona destes dias
A espuma branca da hora perfeita
No relógio já parado das profecias
Só tu tens o perfil da mulher eleita.
Trazida pelo destino num momento
De encontro numa pequena superfície
Tu trouxeste a uma cidade de cimento
Todo o esplendor da terra e da planície.
José do Carmo Francisco, poeta
Publicado na Revista Umbigo nº 11 2004
