A Poesia de José do Carmo Francisco

Umbigo

Teu corpo é uma planície pequenina

Onde eu sou um lavrador à procura

De fazer com a língua na tua vagina

Sementeiras de paixão e de ternura.

Faço dos meus lábios uma charrua

Bem levada pela força dum tractor

E à noite quando vem a luz da lua

Teu corpo é uma seara só de amor.

Na tua boca-vulcão sugas o lume

Aceso na pele dos meus sentidos

Enlouqueço a pensar no perfume

Nos dias longe de ti tão perdidos.

A tua boca é uma oitava maravilha

Pois concentra como em ninguém

A força impetuosa de uma filha

E a serena sabedoria de uma mãe.

Exemplo de uma força da Natureza

Teus lábios são ondas de humidade

Onde eu fico submerso na certeza

De que afinal existe a felicidade.

Podes pensar aquilo que quiseres

Não sou ninguém na voz do Mundo

Única entre milhões de mulheres

Aqui te deixo o obrigado profundo.

Por teres trazido â tona destes dias

A espuma branca da hora perfeita

No relógio já parado das profecias

Só tu tens o perfil da mulher eleita.

Trazida pelo destino num momento

De encontro numa pequena superfície

Tu trouxeste a uma cidade de cimento

Todo o esplendor da terra e da planície.

José do Carmo Francisco, poeta

Publicado na Revista Umbigo nº 11 2004

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