A ligação por José do Carmo Francisco

Nova série retratos 98

Um destes dias (estamos em Outubro de 2025) atravessei o Jardim do Campo Grande (Lisboa) e senti vómitos ao ver um grupo de estudantes de uma das Universidades ali perto (rapazes e raparigas) trajados de escuro aos berros a responder a um imbecil que dava ordens em frases depois repetidas pelo grupo. Chamou-me mais a atenção um grupo de raparigas com uma ladainha sinistra: «Na tua terra não se racha lenha, na minha racha, na minha racha». Era um espectáculo miserável no qual tudo era mau desde as palavras aos gestos numa espécie de tragédia grega mas em vez de lidar com altos sentimentos e paixões dava palco ao lado mais sórdido da alma humana. Em 1999 a Câmara Municipal de Lisboa publicou o meu livro «Transporte Sentimental» e em vez de direitos de autor pagos em dinheiro, recebi duzentos exemplares do dito  volume cujos poemas tinham sido escritos no Verão de 1986 em Santa Catarina (Caldas da Rainha) durante as minhas férias. Julguei que era correcto da minha parte oferecer cinquenta exemplares à Biblioteca da minha terra natal. Quando me dirigi à Escola para fazer essa oferta de livros fui recebido na portaria com bons modos mas a resposta do Conselho Directivo foi demolidora: «Não está ninguém para o receber!» Passado o choque desta brutal negativa logo procurei uma saída e ofereci os livros à Escola Secundária de Alcanena através do meu amigo Victor Lúcio Freire cujos pais eram amigos da minha mãe. O poeta Ruy Ventura que apresentou o livro na Livraria Ler Devagar no dia 3-12-1999 avisou-me de imediato: «Azar o seu. Se fosse vender ouro a prestações tinha a sala dos professores a abarrotar». Está feita a ligação.

José do Carmo Francisco, escritor

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