Cânticos do Mesmo Sal: Uma só língua, mil vozes: a poesia que atravessa oceanos e gerações

Marta (1987)
Nada sabes ainda dos telhados e do sol
Olhas sem ver as flores na janela.
O som dos barcos mais abaixo no rio
chega-te diluído pela distância, pelo vidro
talvez pela tua distraída maneira
de estar aqui como quem não está.
Soltas monossílabos no impulso da cadeira
– são ainda os primitivos da tua voz
a que não existe ainda e está em construção.
Sobes de tom, olhas tão profundamente
que quase assustas na serenidade.
Uma vez por outra dormes – no silêncio
dizes tudo, cansada, costas voltadas para nós.
Não tens ainda sonhos ou remorsos
demasiado pequeno é o teu universo
e levantas o olhar como quem duvida
como quem nada sabe dos telhados e do sol.
José do Carmo Francisco, poeta
A nossa missão é reunir e difundir a poesia escrita em língua portuguesa, nas suas múltiplas expressões regionais e estilísticas. Queremos criar um espaço onde as vozes de diferentes tempos e lugares se entrelacem, celebrando a riqueza cultural, histórica e afetiva que a língua portuguesa transporta. Teremos clássicos e contemporâneos. Uma mescla de vozes de hoje com vozes de ontem.
Sonhamos com uma comunidade literária sem fronteiras, em que a poesia em português — de Lisboa a Luanda, do Rio de Janeiro a Díli, de Ponta Delgada a Maputo, dos centros à diáspora — seja reconhecida como património comum e universal. Desejamos que cada poema seja uma janela aberta para a diversidade e, ao mesmo tempo, para a unidade que a língua proporciona.
