
Nova série retratos 87
No próximo dia 9 de setembro passam 89 anos sobre o dia em que nasceu o poeta, romancista e dramaturgo Norberto Ávila (1936-2022). Tenho dele a simpática
memória de uma entrevista para a Revista Ler – combinámos um encontro na Praça dos Restauradores em Lisboa e no fim da conversa ele ofereceu-me uma caneca com um poema. É nessa caneca que eu bebo o meu café com leite todas as manhãs.
Também (mas não só) é por isso que sei o poema de memória: «Seguem, aos bandos,
pela estrada azul. /Velozes nadadores/turbulentos saltimbancos/ mergulham,
contornando o casco do navio/e respiram depois a brisa matinal.//Festivos
acrobatas/de quando em quando erguem-se das ondas/tentando conhecer/e guardar
na memória os viajantes/(Persistente sinal de afecto indesmentível)//Amigos
fidelíssimos do homem!/Estivéssemos nós em risco de naufrágio/viriam certamente
em nosso auxílio!».
Num país pobre e pequeno como Portugal, penso e continuo a pensar que todos os motivos são bons para celebrar a Poesia, neste caso visitando um poema que terá sido criado pelo autor, como escreveu em 1923 Raul Brandão, «a olhar a Ilha em frente». Fui amigo de Alexandre O Neill (1924-1986) e ouvi um dia no gabinete do Director do Diário Popular (Jacinto Baptista) na Rua Luz Soriano em Lisboa a história do poema para Belarmino Fragoso que terá comentado para o cineasta Fernando Lopes (portador do mesmo) qualquer coisa como «Isto está bem escrito mas este tipo deve ser maluco». O´Neill perante a «pátriazinha iletrada» perguntava «que sabes tu de mim?» sabendo já a resposta «Que és o estica-larica que se vê».

José do Carmo Francisco
-escritor
