Trinta Luas para o Álamo

Cada dia, uma página. Cada página, uma lua. Cada lua, o Álamo.

Uma coleção de testemunhos publicados por várias pessoas na página do Facebook do saudoso Álamo Oliveira.

Foi com enorme pesar que todos recebemos a notícia da partida do nosso José Henrique Alamo Oliveira.

Não foi apenas um homem que partiu, mas sim um pedaço da açorianidade. O mundo, Portugal, os Açores, a Terceira, o Raminho e, sobretudo, os seus amigos, ficaram todos mais pobres.

Para os que com ele privaram – como foi o meu caso – certamente se sentirão um pouco órfãos com esta partida, pois o Álamo, a sua maneira de estar, o seu humor, o talento, a genialidade, o bom gosto, a simpatia e a amizade eram únicas. Será, porventura, impossível encontrar uma pessoa que reúna tanto talento num corpinho só.

Enquanto miúdo, com os meus 7/8 anos, frequentava diariamente a casa do Sr. Florinda (pai do Álamo), pois a minha mãe tomou conta do senhor até ao final dos seus dias. Nas minhas tardes e serões em casa do vizinho, ia passando os olhos pelos imensos livros que compunham a biblioteca lá de casa. Assistia à roda-viva que era a entrada e saída de gente na sua casa: amigos, escritores, músicos, vizinhos, etc. Quando o Álamo estava pelo Raminho, não lhe faltava gente à porta. – Álamo, podes ajudar a fazer a letra para a marcha do bailinho? – Álamo, o que é que achas que levo vestido para a coroação? – Álamo, tinha muito gosto que enfeitasses a igreja para o casamento da minha mais nova. – Álamo, logo à noite passa lá por casa para jantares conosco.

Com o Álamo, e com a sua paciência de santo, aprendi a jogar à bisca e ao jogo do galo com linhas entrelaçadas pelos dedos. Estava ele à porta de casa, de saída, e ia eu atrás dele, com os dedos enriçados num cordel, a ver se ele ainda fazia mais um passo no jogo.

Com o Álamo aprendi a representar as primeiras personagens nos bailinhos de carnaval. Depois de semanas a ensaiar, havia o ensaio em que o Álamo ia assistir. Era o momento para, em muitos casos, refazer tudo. A forma de falar, de estar em palco, a forma como se entrava e saía de cena, a coreografia dos marchantes, etc. O homem até levava os seus desenhos coloridos à mão, com o corte das roupas dos homens, das mulheres e do(a) mestre(a) do bailinho, que depois a Sra. Lúcia tão bem executava.

Um dia fui convidado para fazer parte do grupo coral, que aceitei com agrado. O Álamo não era músico, mas dava uns acordes no órgão. No entanto, sabia mais sobre composição, harmonia e melodia do que a maioria dos músicos que conheço. Em conjunto com o Sr. Joaquim Caetano, compôs, arranjou, ensaiou algumas das mais belas músicas de igreja que conheço. Este ano, na Páscoa, quando fui com a família visitar os meus, fiz questão de ir à missa. A condição de saúde do Álamo já não lhe permitia ser maestro do coro. Mas, como bem ensaiados que foram, cantaram lindamente. Do meu lugar, algures no meio da igreja, cantei emocionado as músicas que conheço desde miúdo, que até hoje me arrepiam a espinha. Mas não sou só eu, porque a minha esposa é a primeira a dizer que as músicas são lindas e que cantam sublimemente.

As missas de festa eram o apogeu. Na festa de S. Francisco Xavier, e sobretudo no Natal, a espécie de sinfonieta que se montava, com o Paulo Valadão, o Manuel Franco, o David Melo Loureiro, o Francisco Loureiro, o Paulo Amaral, a Denise Melo e o Victor Castro (perdoem-me se me esqueci de alguém), em conjugação com os arranjos musicais do coro, formavam um conjunto perfeito, pujante e meticuloso, sobejamente orquestrado pelo amigo Álamo. Que saudades que tenho desses dias, dos ensaios e do dia da festa.

Ontem, durante o velório na igreja do Raminho, chorei ao ouvir o grupo coral a cantar enquanto se despedia do maestro, do pai, do criador.

Mas o Álamo é muito mais do que possa descrever. Talvez não conheça nem metade daquilo que criou, produziu, realizou, ensaiou, coreografou, escreveu, musicou…

O folhado – do Raminho dos folhadais – é rico em ramos, folhas e flores, que brotaram de um tronco comum – o Álamo. Com esta partida, sentimos que o folhado foi cortado pela raiz. Pela cepa. Novos ramos e novas folhas hão de surgir com o tempo. Mas jamais o arbusto voltará a ter o seu formato original.

Até sempre, meu amigo.

EMANUEL BARCELOS

PS: Aproveita e joga uma bisca com o meu avô, que também gostava muito de jogar às cartas.

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Ao Álamo,

Obrigada pela letra, pela a música, pelo teatro, pela pintura, pelos rabiscos, as tardes e serões bem passados e pelas muitas gargalhadas. A tua humildade, carinho e amizade estava em tudo que fizeste.

Agora é tempo de descansar,

Até um dia amigo!

ALESSANDRA XAVIER ALVES

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Com uma amizade que se foi construindo ao longo de mais de 50 anos, era sempre com prazer os encontros com o Álamo Oliveira. De tudo nos sabia bem falar, sem rodeios, com a naturalidade entre amigos. A saudade faz bem, em não esquecer.

Até sempre do DIMAS SIMAS LOPES

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Lembro (hoje) com (mais) saudade a minha única viagem às Flores com os Mar&Ilha há quase 3 anos… Em três dias pouca ilha vi – a bruma, sempre a bruma! – mas ouvimos e sentimos tanto!

Abraçar a Gabriela Silva, conhecer o Ivo Machado e o José Henrique Alamo Oliveira, ouvi-los a falar, observá-los a comer, senti-los a deixar correr o dia e perceber o carinho e a intimidade profunda que os unia foi inspirador! Descobrir a ilha com eles numa carrinha com um condutor insano!, parar em vários lugares que, mais do que vistos, passavam a ser conhecidos pelas estórias que eles partilhavam, ter vivo no meio de nós o Pedro da Silveira no meio daquilo que contavam, lembravam, urdiam num trio de vozes que pareciam ter nascido juntas… que privilégio!…

Todos os três são pérolas da nossa vida artística insular, parte de um imaginário que extravasa largamente os limites de uma geografia infinitamente mais curta do que a história deste arquipélago. Com o Álamo, em pessoa, partilhei poucos momentos, mas nunca esquecerei aquele humor certeiro, aquela sabedoria funda, aquela irreverência latente já temperada pela tranquilidade de uma vida longa, aquela eficácia no ser e no sentir. Aquela doçura também! Não fica connosco só a obra – fica um exemplo, uma inspiração, uma marca em todas as pessoas que a sua luz e o seu génio transformaram. E isso é – quase! – mais importante do que todas as palavras 💙

SARA MIGUEL

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Faleceu o poeta Açoriano Álamo Oliveira🙏😢

Poeta nobre e erudito

Partiu para o infinito

Findou a sua carreira

Foi chegada sua hora

Nosso povo geme e chora

Nos Açores e na Terceira

Um poeta nunca morre

Porque sua obra corre

Nas bocas do pessoal

Mesmo depois de sepultado

Entre o povo é falado

E se tornará imortal

Ficou pobre o Raminho

Ao deixares teu cantinho

Que na vida tanto amaste

O último adeus é dado

Dizendo muito obrigado

Por tudo que nos deixaste🙏🖤

Minhas condolências a todos os amigos/as e familiares, eterna saudade🙏🙏🙏😢💔💔

Bruno Botelho

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O que me consola um pouco é que a última conversa com o José Henrique Alamo Oliveira , terminou em gargalhadas.

Para mim, ele vai continuar sempre vivo, na sua casa do Raminho, na esplanada do Copacabana, nas tertúlias em minha casa e na sua obra. Até sempre.

Valdeci Purim

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