Trinta Luas para o Álamo

Cada dia, uma página. Cada página, uma lua. Cada lua, o Álamo.

     O Álamo era assim: um Senhor e um Amigo

                Conheci Álamo Oliveira em 1985, na cidade de Angra. Nessa altura, eu era uma miúda com vinte e poucos anos, mas a grandeza do Álamo todos incluía: e foi assim que, durante os meses em que encenou uma peça de teatro de Almeida Garrett, os bastidores tornaram-se um espaço de verdadeira tertúlia, onde não faltava o seu apuradíssimo humor. Depois, veio a cumplicidade poética e a viva admiração pela genialidade que lhe permitia viajar de um género literário ao outro, sem perder a matriz que o conduzia. Manuel Seis Vezes pensei em tiMissa Terra LavradaAté hojeMemórias de Cão, constituem, entre outros, títulos que me levaram a ler os seus livros: o Álamo não tinha pressa nem necessidade de aparecer. Nunca pediu que lhe publicassem um livro. Nunca pediu nem sugeriu que o convidassem para eventos literários. Não necessitava. Tudo era feito por dentro, inteiramente por dentro.

           O Álamo era um Amigo, um Senhor: caminhava de forma leve e aparentemente descontraída, sempre comentando com humor o que se ia dizendo. Era só, profundamente só, mas tremendamente resiliente, tremendamente corajoso e ousado.Numa profunda entrevista que lhe fiz no início dos anos noventa, para um jornal regional, disse-me uma das frases mais importantes da minha vida: «O medo canta-se para que se atinja a coragem». E foi assim que viveu, matando o medo e cantando a Liberdade nas mais variadas formas de arte, onde a emigração, a guerra colonial, o amor, as injustiças sociais, a opressão eram sulcadas, viabilizando a emersão da arte-lugar do belo.

          Não vou dizer que o Álamo me fará falta, porque tudo o que me deixou vive comigo.

Ângela de Almeida, poeta

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