Cada dia, uma página. Cada página, uma lua. Cada lua, o Álamo.
Álamo: um renascentistano tempo da pressa (entrevista de Diniz Borges ao Diário Insular, jornalista Armando Mendes

Qual o lugar de Álamo Oliveira na cultura no espaço nacional português e em especial no espaço açoriano alargado às nossas comunidades na diáspora?
Há nomes que não morrem – apenas mudam de lugar. Álamo Oliveira passou do corpo à palavra, da presença ao legado, da ilha ao infinito. Ele foi – e é – o poeta maior do Portugal Atlântico, o artesão de uma açorianidade que se alonga pelo mar e se reencontra nas veias da diáspora. A sua voz não era eco: era origem. Cantou-nos como ninguém, com a ternura brava de quem conhece a lava e o sal da identidade. Para ele, a diáspora não era um parêntesis, mas o coração pulsante do arquipélago repartido pelo mundo.
Qual o lugar de Álamo Oliveira na cultura no espaço nacional português e em especial no espaço açoriano alargado às nossas comunidades na diáspora?
Há nomes que não morrem – apenas mudam de lugar. Álamo Oliveira passou do corpo à palavra, da presença ao legado, da ilha ao infinito. Ele foi – e é – o poeta maior do Portugal Atlântico, o artesão de uma açorianidade que se alonga pelo mar e se reencontra nas veias da diáspora. A sua voz não era eco: era origem. Cantou-nos como ninguém, com a ternura brava de quem conhece a lava e o sal da identidade. Para ele, a diáspora não era um parêntesis, mas o coração pulsante do arquipélago repartido pelo mundo.
Alamo Oliveira cultivou várias dimensões da escrita – romance, teatro, poesia -, mas foi também pintor e até escultor, etc. Era um espécie de homem do Renascimento? Em que dimensões mais se notabilizou?
Homem de muitas linguagens, Álamo era um renascentista no tempo da pressa. Pintava palavras e esculpia silêncios. Era teatro, era romance, era poema. Fundou espaços onde a arte respirava – o Alpendre, onde a palavra se fazia cena e as ideias se faziam corpo, foi a sua catedral de inquietações. Criou a Coleção Gaivota, onde tantos aprenderam a voar com tinta e papel.

Qual é, em seu entender, a grande obra de Álamo Oliveira?
As obras-primas de Álamo Oliveira não são ilhas isoladas – são um arquipélago de palavras insurgentes, onde cada livro é uma vaga que avança sobre o silêncio. Para mim há três livros que se destacam: Até Hoje, Memórias de Cão rasga as trevas da memória com a lâmina da liberdade, denunciando as feridas abertas de um tempo que muitos quiseram apagar. Já Não Gosto de Chocolates é a ternura amarga da diáspora, o retrato íntimo de uma identidade repartida entre partidas e regressos. Burra Preta com uma Lágrima é a poesia da resistência quotidiana, onde a dor se transforma em dignidade e o riso em crítica social. Mas é no seu conjunto que se ergue a grande obra: uma travessia literária feita de coragem e compaixão, de lucidez e ternura, de amor à terra e às gentes. A escrita de Álamo Oliveira é um hino à liberdade, uma celebração da humanidade ferida, mas não vencida. Cada página é um ato de resistência e de cuidado – como quem planta palavras para que o futuro não se esqueça de ser justo.
Como devem, em sua opinião, os Açores homenagear Álamo Oliveira e a sua obra?
Hoje, homenageá-lo é mais do que prantear. É criar uma Bolsa Álamo Oliveira para a Criatividade Açoriana, transversal à literatura, às artes visuais e ao teatro. É reinventar a Gaivota, para novos voos no século XXI. É estudar a sua obra nas escolas e na Universidade dos Açores, declamar os seus versos nas praças, ensinar que a identidade é sempre feita de muitas margens.
Ler Álamo é ouvir as ilhas falarem. Estudá-lo é cuidar da nossa alma. E lembrá-lo – com ação – é garantir que a sua voz continuará a ser farol onde quer que haja um açoriano a precisar de se lembrar quem, verdadeiramente, é.
In Diário Insular
