As ilhas dos Açores

Pesquisa e tradu;cão do Professor Emérito Manuel Menezes de Sequeira, rersidente na ilha das Flores, Azores.

Publicado em 1613, o livro «Les Estats, Empires et Principautez du Monde», de Pierre d’Avity, é uma enciclopédia histórica, sem quaisquer ilustrações ou mapas, descrevendo, como o nome indica, os estados, impérios e principados do mundo no início do século XVII. No seu capítulo III, «Des Estats & Monarchie du Roy d’Espagne, tant en l’Europe, Asie, qu’Afrique» ou «Discours de la monarchie d’Espagne», mais precisamente entre as páginas 248 e 257, encontra-se uma secção, «Les Isles Açores», onde descreve os Açores e faz um pequeno resumo das possessões portuguesas e espanholas, nessa altura sob o mesmo rei Filipe III de Espanha, Filipe II de Portugal.

Pierre Davity, ou d’Avity, senhor de Montmartin (Tournon-sur-Rhône, Ardèche, França, 13 de Agosto de 1573 — Paris, 2 de Março de 1635), foi um militar, escritor, historiador e geógrafo francês. A sua obra é essencialmente a de compilador de informação de outrem. Por isso, a descrição que faz dos Açores reproduz, em grande medida, o que se encontra noutras obras. Mas nem por isso deixa de ter interesse, pois reflecte, parece-me, o conhecimento disponível na Europa, fora de Portugal, existente nessa época.

Note-se que esta obra foi publicada pela primeira vez em 1613 e foram saindo sucessivas edições até 1635, quando o autor faleceu. Após a sua more, e até 1660, a trabalho foi continuado por François Ranchin (1564-1641) e por Jean-Baptiste de Rocoles (Béziers, 1620 — Toulouse, 1696).

— Versão traduzida:

AS ILHAS DOS AÇORES

Sumário

1. Origem do nome Açores: e por que motivo estas ilhas foram assim chamadas. 2. Descrição da Terceira e das outras ilhas dos Açores. Suas principais cidades e vilas. 3. Singularidade dos frutos chamados batatas; e de uma planta cuja raiz serve em vez de penas para encher colchões e edredões. Do pastel: dos pássaros da Canária. Das fontes de águas quentes onde se podem cozer ovos. Fonte que converte a madeira em pedra. Madeira de uma beleza incrível chamada Teixo, à qual é proibido tocar por edital do Rei de Espanha. 4. Doenças particulares do país. 5. A que se dedicam os habitantes destas ilhas: o modo de conservar o trigo que se deteriora no espaço de um ano. 6. Fortalezas da ilha Terceira no topo dos rochedos, governadas e guardadas por soldados da nação espanhola. 7. Angra, cidade capital das ilhas Açores, onde reside o governador, que proíbe por edital os estrangeiros de circundarem a ilha ou de observarem os seus acessos.

Contam-se em sete as ilhas dos Açores, ou Flamengas, a saber: a Terceira, São Miguel, Santa Maria, São Jorge, a Graciosa, Pico e Faial. As outras duas, a saber, Corvo e Flores, não são incluídas sob o nome Açores, embora hoje se coloque sob um mesmo governo as nove ilhas. Chamaram-lhes Açores pela multidão de açores que ali se encontravam no início. Mas hoje não se encontram essas aves. Tiveram o nome de Ilhas Flamengas por causa dos flamengos que primeiro habitaram na ilha do Faial, onde ainda há famílias cujos homens se assemelham aos flamengos nos cabelos e nos modos, e até se chama a uma ribeira do lugar onde residem Ribeira dos Flamengos. A capital de todas estas ilhas é a Terceira, comumente chamada Ilha de Jesus Cristo da Terceira. Contém quinze ou dezasseis milhas. Não possui porto para proteger os navios. Contudo, o mar, curvando-se em meia-lua diante da cidade de Angra, forma uma espécie de porto. E é também daí que vem o nome da cidade, porque os portugueses chamam «angra» a esta forma da lua. De um lado, onde se estende como um cotovelo, tem duas montanhas chamadas Brasil, que avançam para o mar de tal modo que, vistas de longe, parecem separadas da ilha. De resto, são tão altas que delas se pode ver livremente até quinze milhas, quando o tempo está sereno. Há lá duas colunas de pedra de onde o vigia anuncia a chegada dos navios, pois assinala os que vêm do Ocidente e do Sul, isto é, das duas Índias, do Brasil, da Guiné e do Cabo Verde, pela coluna do Ocidente, por meio de bandeiras hasteadas. Se houver mais de cinco, isso é dado a conhecer pelo estandarte principal e pelo soar da trombeta. Da coluna do Oriente reconhecem-se os navios que vêm de Portugal e de outros lugares do Oriente ou do Norte, assinalados por meio das bandeiras que aí se hasteiam, visíveis de toda a cidade devido à altura destas colunas. A cidade principal desta ilha é Angra, que é também a capital das outras ilhas dos Açores. A três milhas vê-se a cidade da Praia, isto é, cidade da costa, que está cercada por muralhas razoavelmente boas, mas é pouco povoada. A Terceira tem ainda as vilas de São Sebastião, Santa Bárbara, Altares, Gualve [provavelmente Agualva] e Vila Nova, entre outras. A ilha de São Miguel tem cerca de vinte milhas de comprimento e muitas vilas e povoações. A principal cidade desta ilha chama-se Ponta Delgada. Não há portos nesta ilha, e o mar é mais perigoso que em torno da Terceira. Mas os navios têm a vantagem de que não há forte que os impeça, em caso de tempestade, de se fazerem ao largo para evitar o perigo, coisa que não é permitida perto da Terceira. Por isso, os navios estrangeiros vão de boa vontade a São Miguel. A ilha de Santa Maria tem de perímetro dez ou doze milhas. É habitada por espanhóis.

A Graciosa contém cerca de cinco ou seis milhas. Há portugueses que ali residem. A ilha de São Jorge tem doze milhas de comprimento e apenas duas ou três de largura. A ilha do Faial contém dezassete ou dezoito milhas e é a de maior nomeada depois da Terceira e de São Miguel. A ilha das Flores contém sete milhas. A cerca de uma milha dela vê-se a pequena ilha do Corvo, que tem duas ou três milhas de perímetro. A Terceira está a trinta e nove graus de latitude e dista de Lisboa, para o Levante e o Poente, 250 léguas espanholas.

QUALIDADE

Toda a ilha Terceira produz muito trigo e grande quantidade de vinho. Contudo, os vinhos não podem ser transportados para longe devido à sua fraqueza, o que faz com que os ricos usem vinhos da Madeira e das Canárias. A ilha tem peixe, carne e outras coisas necessárias em abundância. Usa-se apenas o azeite que vem de Portugal, e falta-lhe também sal, potes, pratos, louça de barro e coisas semelhantes. Produz pêssegos de várias espécies e em abundância; mas há poucas cerejas, ameixas, nozes e castanhas. Maçãs, pêras, laranjas, limões e frutos semelhantes encontram-se em quantidade razoável, e também produz couves, nabos e toda a sorte de ervas, na sua estação. O principal fruto desta ilha cresce debaixo da terra, como os nabos. As árvores desta planta têm a forma de videiras, mas as folhas são de outro tipo. Chamam a estes frutos batatas, que pesam cerca de uma libra e são de baixo preço. É a comida mais delicada do povo. São muito mais estimadas em Portugal, mas a abundância diminui o seu valor. Vê-se outro fruto que é semeado como o trigo e cresce em forma redonda, quase como uma ervilha. Chama-se junça [Cyperus esculentus L.]. Este fruto tem um sabor agradável, mas a casca é mais dura que a da ervilha. É muito apreciado noutros países, mas no local é dado aos porcos. Encontra-se na mesma ilha, comumente, uma planta da altura de um homem que não dá fruto nem rende outro proveito senão a raiz tenra e amarela, que é puxado pelos habitantes como a seda, que a usam para encher colchões e edredões, em vez de penas ou de lã. A ilha tem poucas aves de rapina. As chamadas da Canária voam por todos os lados. Por isso, muitas pessoas se ocupam a apanhá-las para vender. Há muitas codornizes e galos e galinhas de África em quantidade. No verão, pesca-se muito peixe, mas no inverno o mar não permite a pesca, pois em Janeiro, Fevereiro, Março e Abril, e até em Setembro, quase nunca deixa de haver tempestades. O terreno é montanhoso, há rochedos em vários lados que avançam como pontas de diamante, de tal modo que poderiam cortar a planta dos pés de quem por ali passasse. Mas esses rochedos estão cheios de videiras, cujas folhas os cobrem por completo no verão, de modo que é uma maravilha ver como esta planta ali cria raízes. A videira não cresce nos campos ou lugares planos. Mas o terreno plano abunda em trigo e pastel, principalmente perto da cidade da Praia. É, porém, algo comum e maravilhoso que o trigo e outros frutos desta ilha não durem mais de um ano na sua qualidade. Esta ilha é muito sujeita a tremores de terra e tem sopros de chama. E, especialmente nesta ilha e na de São Miguel, encontram-se lugares de onde saem continuamente vapores fumegantes e onde o solo está todo queimado. Encontram-se também fontes onde se pode cozer um ovo como se estivesse ao lume. A três milhas de Angra há uma fonte que, com o tempo, converte em pedra a madeira que ali se lança. A Terceira tem tantos cedros que são usados para construir navios e até para queimar, como lenha. Há outra espécie de madeira chamada sanguinho [Frangula azorica Tutin] que é da cor do sangue e bela em extremo. Há também madeira branca [talvez pau-branco; Picconia azorica (Tutin) Knobl.] e amarela, cujas cores são muito vivas. A ilha do Pico produz uma madeira chamada Teixo [Taxus baccata L., hoje quase extinta], de tal grandeza que é proibido ao povo tocá-la por edital do Rei de Espanha, sendo permitido fazê-lo apenas aos oficiais do rei. É extremamente dura, vermelha por dentro, ondulada, de uma beleza incrível, que aumenta com o tempo.

O ar é bom em toda a parte, e há muito poucas doenças próprias do país, entre as quais está aquela a que os portugueses chamam «ar», que deixa um homem fraco e paralisado em todo o corpo ou em algum dos seus membros. Há ainda uma doença, a que os portugueses chamam «sangue», que faz surgir certos abcessos de sangue em torno dos olhos ou noutra parte do corpo. São estes os dois principais males, que provêm das tempestades, da humidade dos lugares e dos grandes ventos. Estes são tais que, com o tempo, derrubam as pedras das casas e até consomem o ferro, pois viu-se que barras de ferro da espessura de um braço, na tesouraria do rei, em seis anos se tornaram tão finas como uma palha, e as próprias muralhas foram corroídas e reduzidas a nada nesse mesmo tempo. Por isso, costumam colocar quase sempre nas fachadas das casas pedras que retiram do litoral, onde estão escondidas sob as águas. Estas resistem mais aos ventos. A ilha Graciosa produz muitos e variados frutos, dos quais fornece quantidades à Terceira. A ilha de São Jorge tem grande número de florestas e montanhas, e algum pastel. Há também muitos cedros. A ilha do Faial produz em quantidade todas as coisas necessárias à vida e abunda em peixes e gado, que fornece até à Terceira.

A ilha do Pico produz muitos frutos de todas as espécies e tem também grande quantidade de madeira de cedro e de teixo, que é muito valorizada. Tem muito gado, vinho suficiente e frutos excelentes, entre os quais há laranjas de sabor maravilhosamente agradável. A ilha das Flores tem muito gado e bons lugares para o alimentar.

COSTUMES

Os habitantes da Terceira são ou portugueses que vivem segundo os costumes do seu país, ou nativos da ilha que seguem os costumes dos portugueses e dos espanhóis que os dominam. Têm a particularidade de não se dedicarem à caça, pois o país tem apenas alguns coelhos em muito pequeno número. Os primeiros habitantes da ilha do Faial foram flamengos, razão pela qual ainda conservam o temperamento e os modos da nação flamenga, que apreciam particularmente acima de qualquer outra. Os habitantes da Terceira são trabalhadores e dedicados a cultivar a terra, de tal modo que conseguem até manter videiras em rochedos que não parecem de todo próprios para esse uso. Costumam, para conservar o grão que se deteriora no espaço de um ano, escondê-lo debaixo da terra durante quatro ou cinco meses, e todos os habitantes da cidade da Praia, em particular, têm um grande poço redondo num certo lugar, onde um homem pode entrar, por cima do qual há uma cobertura com a marca do seu dono. Cada um coloca no seu poço o trigo, após a colheita, em Julho, e deixa-o assim coberto até ao Natal. Nessa altura todos os habitantes o retiram, inteiro e não deteriorado, embora alguns só retirem o que precisam e deixem o resto no poço. Depois de guardado nesses poços durante o tempo referido, conserva-se o resto do ano em arcas, sem necessidade de o mexer. Costumam dar um nome a cada boi, que é treinado para o reconhecer quando o dono por ele chama. Há muitos artesãos por toda a parte que se dedicam a fazer mil objectos delicados com a madeira que lá se encontra. Mas não trabalham tão primorosamente como os de Nuremberga, na Alemanha. Os lavradores da Terceira dedicam-se principalmente a produzir pastel. Os de Santa Maria dedicam-se sobretudo a fazer louça de barro.

RIQUEZAS

Os ingleses, escoceses e franceses fazem grande uso do pastel na ilha Terceira e trocam-no de boa vontade por outras mercadorias. Os habitantes também ganham algum dinheiro com os pássaros da Canária, que se encontram em grande número e que são procurados com curiosidade noutras províncias.

Faz-se também grande lucro com os bois desta terra, que são muito procurados por serem muito grandes e mais belos que todos os outros da Europa. Os habitantes obtêm também boas somas com a sua marcenaria e trabalhos em madeira, que os espanhóis, vindos das Índias Ocidentais, compram de passagem para depois venderem em Espanha.

A Terceira está numa posição conveniente para receber todas as ricas frotas que vêm das Índias, que ali se abastecem do que lhes é necessário, deixando também coisas que transportam, o que torna esta ilha rica, assim como as outras, onde também se acorre logo para negociar o que há de melhor. Mas os ingleses apenas passam por lá, saqueando e roubando todos os navios que se dirigem para esta ilha, de tal modo que muitos evitam estas ilhas por receio de encontrar esses piratas, com grande prejuízo para os insulares e para os navios. A ilha do Faial é habitualmente frequentada por comerciantes ingleses que ali fazem uso do pastel todos os anos. Os habitantes das Flores e do Corvo são pobres devido aos piratas ingleses que os incomodam, permanecendo entre estas duas ilhas e devastando-as a toda a hora.

FORÇAS

A ilha Terceira é forte em si mesma, devido aos rochedos que a rodeiam por todos os lados, como muralhas. No topo desses rochedos há uma boa fortaleza. A cidade de Angra está cercada por muralhas razoavelmente boas. Ao pé da montanha do Brasil há um forte que se opõe diametralmente a outro, para a defesa da baía, de modo a que nenhum navio entre ou saia sem a permissão desses castelos. O Rei de Espanha mantém habitualmente na Terceira catorze companhias. Outrora, apenas portugueses guardavam estas ilhas. Mas, desde os últimos tumultos de Portugal, colocaram-se soldados espanhóis na Terceira, com um governador da mesma nação. Esta guarnição permanece continuamente nos castelos ou fortalezas e não agrada aos portugueses, pois é proibido aos soldados saírem dos lugares onde estão e andarem pelo campo. Isso faz com que se possa caminhar por toda a ilha com grande segurança. Há uma companhia de espanhóis em guarnição em Ponta Delgada. Na ilha de Santa Maria não há guarnição, pois, estando rodeada de escolhos e rochedos, pode ser facilmente guardada pelos próprios habitantes. A ilha Graciosa também não tem soldados, porque não poderia suportar os custos da guarnição que seria necessário manter. Na cidade da Horta, na ilha do Faial, há uma fortaleza que não é muito boa. Ora, porque os habitantes uma vez se queixaram do elevado custo da guarnição e do incómodo que ela lhes causava, e prometeram guardá-la eles mesmos, o Rei de Espanha retirou os soldados que ali estavam. Mas o inglês Cumberland, após uma pequena resistência e um conflito que surgiu entre os habitantes, tomou a ilha, destruiu o castelo, lançou a artilharia ao mar e levou algumas caravelas [Sir George Clifford, 3.º Conde de Cumberland, 13.º Barão de Clifford, 13.º Senhor de Skipton (8 de Agosto de 1558 — 30 de Outubro de 1605), tomou o Faial em 22–23 de Junho de 1594, no âmbito da Guerra Anglo-Espanhola (1585–1604)]. Assim, o rei foi constrangido a enviar soldados e a restabelecer a guarnição, após punir os principais responsáveis por todo o mal.

GOVERNO

A cidade capital de todas as ilhas é Angra, onde reside o Governador, e há um Tribunal de Justiça com autoridade sobre o resto. É proibido a qualquer estrangeiros circundar a ilha e observar os seus acessos. Os editais dos portugueses proíbem-no expressamente, e outrora atribuía-se aos comerciantes estrangeiros uma rua na cidade de Angra para venderem as suas mercadorias, sem que lhes fosse permitido sair dela, excepto quando partir definitivamente. Mas hoje a liberdade é maior, de modo que se pode passear por toda a cidade, e até ir aos campos, mas não é permitido fazer o circuito da costa.

RELIGIÃO

Os habitantes destas ilhas são católicos e de modo algum contaminados por heresia ou maometismo. Há uma Igreja Catedral na cidade de Angra, onde reside o arcebispo.

— Versão original:

LES ISLES AÇORES.

Sommaire.

1. Origine du mot Açores : & pourquoy ces Isles ont esté ainsi nommees. 2. Description de la Tercere & des autres. Isles Açores. Leurs principales villes & bourgs. 3. Singularité des fruits qu’on appelle Batates ; & d’une plante dont la racine sert au lieu de plumes pour emplir les matelats & couettes. Du pastel : des oiseaux de Canarie. Des fontaines d’eaux chaudes où lon peut cuire des œufs. Fontaine qui convertit le bois en pierre. Bois d’une beauté incroyable nommé Teixo, auquel est deffendu de toucher par edict du Roy d’Espagne. 4. Maladies particulieres du pays. 5. A quoy s’adonnent les habitans de ces Isles : la façon de garder leur froment qui se corrompt dans l’annee. 6. Fortresses del’isle Tercere au bout des rochers gouvernees & gardees par des soldats Espagnols de nation. 7. Angre capitale ville des Isles Açores, où reside le Gouverneur, qui defend par edict aux estrangers de faire le tour de l’Isle, ny d’en considerer les avenuës.

On compte sept Isles Açores, ou Flamandes,c’est à sçavoir la Tercere, S. Michel, S. Marie, S. Georges, la Gracieuse, Pico, & Fayal. Les autres deux, c’est à sçauoir Corves & Flores ne sont pas comprises sous le nom Açores, combien qu’aujourd’huy on mette sous un mesme gouvernement les neuf Isles. On les nomma Açores de la multitude des autours qu’on y trouvoit au commencement, pource qu’Açor signifie un Autour en Espagnol. Mais aujourd’huy on n’y trouve point de ces oifeaux. Elles ont eu le nom d’Isles Flamandes, à cause des Flamans qui habiterent les premiers en l’Isle de Fayal, où ils ont encor des familles, dont les hommes ressemblent aux Flamans de cheveux & de façon, & mesme on appelle un torrent du lieu où ils demeurent Ribera dos Framengos, en Portugais, c’est à dire riviere des Flamans. La capitale de toutes ces Isles c’est la Tercere nommee communement Isle de Jesus-Christ de Tercere. Elle contient environ quinze ou seize milles. Elle n’a point de port pour deffendre les navires. Toutesfois la mer se courbant en demie lune devant la ville d’Angre fait une espece de port. Et c’est aussi d’où vient le nom de la ville, àcause que les Portugais nomment Angre ceste forme de la Lune. D’un costé où elle s’estend comme un coude elle a deux montagnes nommees Bresijl, qui s’advancent dans la mer en telle façon qu’elles semblent de loing separees de l’Isle. Au reste elles sont si hautes qu’on voit de là librement jusques à quinze milles lors que le temps est serain. Il y a là deux colonnes de pierre, d’où celuy qui est en garde faict sçauoir la venue des navires. Car il remarque celles qui viennent d’Occident, & du Midy, c’est à sçauoir des deux Indes, du Bresil de la Guinee & du Cap verd, de la colonne d’Occident, par le moyen des drapeaux dressez, & s’il y en a plus de cinq, on les faict cognoistre par le moyen du principal drapeau, & de la trompette qui sonne. De la colonne d’Orient on cognoit les navires qui viennent de Portugal, & d’autres lieux d’Orient, ou du Nort, par le moyen des drapeaux qu’on dresse, qui sont veuz de toute la ville, à cause de la hauteur de cés colonnes. La ville principale de cette Isle c’est Angre, qui est aussi capitale des autres Isles Açores. A trois mille de là on voit la ville de Praye, c’est à dire ville du rivage, qui est ceinte d’assez bonnes murailles, mais peu peuplee. La Tercere a encor les bourgs de sainct Sebastien, saincte Barbe, Altares, Gualve, & Villeneufue, & autres. L’Isle de saint Michel a pres de vingt milles de longueur, & beaucoup de Bourgs, & de hameaux. La principale ville de cette Isle se nomme Punta delgada, Il n’y a point de ports en cette Isle, & la mer y est plus dangereuse qu’autour de la Tercere. Mais les navires ont ce bien que il n’y a point de fort qui les empesche à l’arrivee de quelque orage de se mettre en pleine mer, pour eviter le danger ; ce qui n’est permis pres de la Tercere. A raison dequoy les navires estrangeres vont volontiers à saint Michel. L’Isle de saincte Marie a de tour dix ou douze mille. Elle est habitee des Espagnols.

La Gracieuse contient environ cinq ou six milles. Il y a des Portugais qui y demeurent. L’Isle de sainct George est longue de douze milles, & large seulement de deux, ou trois. L’Isle de Fayal contient dix-sept ou dix-huict milles, & est la plus renommee apres la Tercere, & sainct Michel. L’Isle de Flores contient sept milles. A un mille ou environ loing de là on voit la petite Isle de Coruo, qui a deux ou trois milles de tour. La Tercere a trente neuf degrez de hauteur, & eft esloignee de Lisbone vers le Levant, & le Couchant 250. lieuës d’Espagne.

QUALITE.

Toute l’Isle de la Tercere porte force froments, & grande quantité de vin. Toutesfois les vins ne peuvent estre emportez loing à raison de leur foiblesse, qui est cause que les riches usent des vins de Madere, & de Canarie. L’Isle a du poisson, de la chair, & autres choses necessaires à suffisance. On y use seulement de l’huyle qui vient de Portugal, & elle manque aussi de sel, de pots, de plats, & de vaisselle de terre, & choses semblables elle porte des pesches de diverses sortes, & en abondance ; mais il y a peu de cerises, de prunes, de noix, & de chastaignes. Les pomme, poires, oranges, limons, & semblables fruits s’y trouvent en assez bonne quantité, & de mesme elle porte des choux, des raves, & toute sorte d’herbes en leur saison. Le principal fruit de cette Isle croist sous terre ainsi que les raves. Les arbres de cette plante sont de la forme des vignes, mais ont les feuilles d’autre sorte. On nomme ces fruits Batates qui sont du poids d’une livre, & à petit prix. C’est le plus delicat manger du peuple. On les estime beaucoup plus en Portugal mais l’abondance en diminuë l’estime. On y voit un autre fruit semé comme du froment, croit en forme ronde presque comme un poix. On l’appelle Junsse [junça; Cyperus esculentus L.]. Ce frui a un goust agreable : mais son escorce est plus dure que celle du poix. On en fait grand estat aux autres pays ; mais sur le lieu on le jette aux pourceaux. On trouve en la mesme Isle communement une plante de la hauteur d’un homme, qui ne porte aucun fruit ; & ne rend autre profit sinon que la racine tendre, & jaune est tiree comme de la soye par les habitans, qui en remplissent leurs matelats, & leurs couettes au lieu de plume, & de laine. L’isle n’a guiere d’oyseaux de proye. Ceux qu’on nomme de Canarie, y volent de tous costez. A raison dequoy beaucoup de gens s’occupent à les prendre pour les vendre. Elle a beaucoup de cailles, & des coqs & poules d’Afrique en quantité. En Esté on y prend beaucoup de poisson ; mais en Hyver la mer ne permet qu’on y pesche. Car en Janvier, Fevrier, Mars & Avril, & mesme en Septembre elle n’est presque jamais sans orage. La terre y est montueuse, il y a des rochers de plusieurs costez, qui s’advancent comme des pointes de Diamant, en telle sorte qu’ils pourroient couper la plante des pieds de celuy qui y passeroit. Mais ces rochers sont pleins de vignes, de feuilles desquelles ils sont tous couvers en Esté, de sorte que c’est une merveille de voir que cette plante y a pris racine. La vigne ne croist pas aux campagnes, ou lieux pleins. Mais le pays plein abonde en froment, & en pastel, principalement pres de la ville de Praye. Mais c’est chose ordinaire, & merveilleuse que le froment, & les autres fruits de cette Isle ne dure plus d’une annee en leur bonté. Cette Isle est fort subjecte aux tremblemens de terre ; & a des souspiraux de flamme. Et mesme en céste Isle & en celle de saint Michel, on trouve des lieux d’où il sort des vapeurs fumeuses continuellement, & mesme la terre y est toute bruslee. On y trovue aussi des fontaines où lon peut cuire un œuf, cõme s’il estoit sur le feu. A trois milles loing de la ville d’Angre il y a une fontaine qui convertit en pierre le bois qu’on y jette avec le temps. La Tercere porte un si grand nombre de Cedres qu’on en use pour faire des vaisseaux, & mesme pour mettre au feu. Il y a une autre sorte de bois qui nomment Sanguin [sanguinho ; Frangula azorica Tutin], qu’ils est de couleur de sang, & beau au possible. Il y a aussi du bois blanc [talvez pau-branco ; Picconia azorica (Tutin) Knobl.], & jaune, dont les couleurs sont fort vives. L’Isle de Pico porte un certain bois nommé Teixo [Taxus baccata L., hoje quase extinta], qui est de telle grandeur, qu’il est desfendu au peuple par Edict du Roy d’Espagne d’y toucher ; n’y ayant que les Officiers du Roy à qui cette chose soit permise. Il est extremement dur, rouge au dedans, & ondé, d’une beauté incroyable, qui s’augmente mesme avec le temps.

L’air est bon par tout icy, & il y a fort peu de maladies particulieres au pays, entre lesquelles est celle que les Portugais nomment Ar, qui rend un homme foible & perclus de tout son corps, ou de quelqu’un ne [sic] ses membres. Il y a encor une maladie que les Portugais appellent le Sang qui faict sortir certaines apostemes de sang au tour des yeux, où bien en quelque autre partie du corps. Ce sont les deux maux principaux, qui procedent des orages de l’humidité des lieux, & des grands vents, qui sont tels icy qu’ils abbatent les pierres des maisons à la longue, & mesme consument le fer ; veu qu’on a veu des barreaux de fer de la grosseur du bras en la maison de l’argenterie du Roy, qui en six ans devindrent aussi menuz qu’une paille, & les murailles mesme furent rongees, & reduites à rien dans ce temps mesme. C’est pourquoy ils ont accoustumé de mettre presque tous au frontispice des maisons des pierres qu’ils tirent autour du rivage qui sont cachees sous les eaux. Celles-cy durent plus contre les vents. L’Isle Gracieuse porte force divers fruits, dont elle en fournit beaucoup à la Tercere. L’lsle de saint George a grand nombre de forests & de montagnes, & quelque peu de pastel. Il y a aussi beaucoup de Cedres. L’lsle de Fayal porte en quantité toutes choses necessaires à la vie, & abonde en poissons, & en bestail qu’elle fournit mesme à la Tercere.

L’lsle de Pico porte force fruits de toutes sortes, & a aussi grande quantité de bois de Cedre, & de Teixe, qui est tant en prix. Elle a beaucoup de bestail, assez de vins, & des fruits tres-excellens, entre lesquels il y a des oranges dont le goust est merueilleusement agreable. L’Isle de Flores a force bestail, & de tres-bons lieux pour en faire nourriture.

MEURS.

Les habitans de la Tercere sont ou Portugais qui vivent à la façon de leur pays, ou natifs de l’Isle qui suyvent les meurs des Portugais, & des Espagnols qui les dominent. Ils ont cette particularité qu’ils ne s’adonnent nullement à la chasse, à cause que le pays ne porte que quelques conils en bien petit nombre. Les premiers habitans de l’Isle de Fayal ont esté Flamens, à raison dequoy ils retiennent encor de l’humeur, & des façons de faire de la nation Flamande, qu’ils affectionnent particulierement sur toute autre. Les habitans de la Tercere sont laborieux, & adonnez à cultiver la terre ; tellement qu’ils font mesme tenir la vigne sur des rochers qui ne semblent nullement propres à cet usage. Ils ont accoustumé pour garder leur grain qui corrompt dans l’annee de le cacher soubs la terre l’espace de quatre ou cinq moys, & tous les habitans de la ville de Praye particulierement ont un grand rond en certaine place, où un homme peut entrer, & au dessus il y a un couvert auec la marque de son maistre. Chacun met en sa fosse son froment apres la moisson au moys de Juillet, & le laisse ainsi couvert jusques à Noel. L’ors tous les habitans le retirent entier & non corrompu, combien que quelques uns n’en prennent qu’à mesure qu’ils en ont besoin, & laissent dans le puy tout le reste. Et apres qu’il a esté gardé dans ces puys durant le temps susdict il se conserve le reste de l’annee dans des coffres, sans qu’il soit besoin de le remuer. Ils ont accoustumé de donner un nom à chaque beuf, qui est dressé à cognoistre lors que son maistre l’appelle. Il y a beaucoup d’artisans par tout qui s’adonnent à faire mille gentillesses du bois qui s’y trouve. Mais ils ne travaillent pas si proprement que ceux de Noremberg en Alemagne. Les laboureurs de la Tercere s’employent principalement à faire venir du pastel. Ceux de saincte Marie s’addonnent sur tout à faire de la vaisselle de terre.

RICHESSES.

Les Anglois, Escossois, & François font grande emploite de pastel en l’Isle Tercere, & l’eschangent volontiers à d’autre marchandise. Les habitans y font aussi quelque argent des oyseaux de Canarie qui s’y trouvent en grand nombre, & qu’on vient chercher curieusement des autres Provinces.

On y faict aussi grand gain sur les beufs de ce pays qui sont de requeste pour estre tres-grands & plus beaux que tous les autres de l’Europe. Les habitans tirent aussi de bonnes sommes de leur menuiserie, & ouvrages de bois, que les Espagnols venants des Indes Occidentales prennent en passant pour les vendre apres en Espagne.

La Tercere est en une assiette commode pour recevoir toutes les riches flottes qui viennent des Indes, & qui s’y fournissent de ce qui se trouve leur duire, y laissent aussi des choses qu’ils portent, & rendent par ce moyen cette cette [sic] Isle riche ainsi que les autres, qui y accourent aussi tost pour faire trafic de ce qu’ils ont de meilleur. Mais les Anglois ne font qu’escumer par là aupres, & voler tous les navires qui tendent vers cette Isle : tellement que plusieurs euitent ces Isles de crainte qu’ils ont de rencontrer ces pyrates, au grand dommage des insulaires, & des navires. L’isle des Fayalz est ordinairement frequentee des marchands Anglois qui y font emploicte de pastel toutes les annees. Les habitans de Flores, & Corvo sont pauvres à cause des Pyrates Anglois qui les incommodent, se tenans entre ces deux Isles & les ravagent à toute heure.

FORCES.

Isle Tercere est forte d’elle mesme à cause des rochers qui l’environnent de tous costez comme des murailles, & au bout de ces rochers il y a une bonne forteresse. La ville d’Angre est ceinte d’assez bonnes murailles. Au pied de la montagne de Bresil, il y a un fort qui despend diametralement à un autre, pour la defence du Golfe, à fin qu’aucun navire n’entre ny sorte sans la permission de ces chasteaux. Le Roy d’Espagne entretient ordinairement en la Tercere quatorze compagnies. Il n’y avoit autresfois que des Portugais à la garde de ces Isles. Mais depuis les derniers troubles de Portugal on a miz des soldats Espagnols dans la Tercere avec un Gouverneur de la mesme nation. Cette garnison se tient continuellement dans les chasteaux, où forteresses, & ne fait aucun de plaisir aux Portugais, veu qu’il est defendu à tous les soldats de sortir hors des lieux où ils sont, & d’aller par la campagne. C’est ce qui faict aussi qu’on peut marcher par toute l’Isle en grande asseurance. Il y a une compagnie d’Espagnols en garnison à Punta Delgada. En l’Isle sainte Marie il n’y a nulle garnison, pource qu’estant de tous costez environnee d’escueils, & de rochers, elle peut aysément estre gardee par les habitans mesmes. L’Isle Gracieuse est aussi fans soldats, & pour ce qu’elle ne sçauroit porter les fraiz de la garnison qu’il seroit besoin d’y tenir. En la ville de Dorta en l’Isle de Fayal il ya une forteresse qui n’est guiere bonne. Or à cause que les habitans se plaignirent une fois de la grandeur des fraiz de la garnison, & de la fascherie qu’elle leur donnoit, & qu’ils promirent de la garder eux mesmes, le Roy d’Espagne en retira les soldats qui s’y tenoient. Mais Comerland Anglois apres une petite resistance, & un debat qui survint entre les habitans, prit l’Isle, ruyna le chateau, & jetta l’artillerie dans la mer, emmenant quelques Caravelles [Sir George Clifford, 3.º Conde de Cumberland, 13.º Barão de Clifford, 13.º Senhor de Skipton (8 de Agosto de 1558 — 30 de Outubro de 1605), tomou o Faial em 22–23 de Junho de 1594, no âmbito da Guerra Anglo-Espanhola (1585–1604)]. Si bien que le Roy fut convié d’y envoyer des soldats & les y remettre en garnison, apres avoir chastié les principaux autheurs de tout le mal.

GOUVERNEMENT.

La capitale ville de toutes les Isles c’est Angre, où le Gouverneur faict sa residence, & il y a un Siege de Justice, qui a authorité sur tout le reste. Il est defendu à tous estrangers de faire le tour de l’Isle, & d’en considerer les adnuës [?]. Les Edicts des Portugais en portent expresse deffence, & mesme autrefois on assignoit aux marchands estrangers une rue dans la ville d’Angre, pour y vendre leurs marchandises, sans qu’il leur fut permis d’en sortir, sinon lors qu’ils vouloient entierement trousser bagage. Mais aujourd’huy la liberté est plus grande, tellement qu’on se peut pourmener par toute la ville, & mesme aller aux champs, mais il n’est permis d’aller faire le tour de la coste.

RELIGION.

Les habitans de ces Isles sont Catholiques, & nullement infectez d’heresie, ny de Mahometisme. Ll y a une Eglise Cathedrale en la ville d’Angre, où l’Archevesque faict sa demeure.

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