
Gentil-homem
Magro, mas na medida da elegância, um sorriso de viés que ele mantém mesmo quando olha para o lado, ele possui, dentre tantos, um dom raro em nossos dias: se interessa pelo que diz seu interlocutor. Ouve mais do que pergunta, fala de si apenas quando perguntado; sabemos de seus feitos literários pelas outras pessoas, e não são poucos, e são vários. Seus interesses incluem a cônica, o romance, o conto, o ensaio, o teatro, a reportagem; enfim, todas as possibilidades que o texto oferece, e sempre o faz bem. Dentre uma obra vasta, é inevitável fazer escolhas, e sabendo que isso não vai alterar o curso da História, dedico meu maior interesse ao Já não Gosto de Chocolates e Pátio d’Alfândega: Meia-noite, talvez pelo gênero novelístico, talvez, também, pela ironia, talvez pela descrença de que nossa pobre Humanidade um dia vai tomar jeito. Cultiva, assim, certo e sedutor decadentismo, que Eça anunciou e Oscar Wilde praticou. Sua prosa, com o tempo, passou de um período inicial intensamente conotativo para uma expressão tersa, adequada ao modus contemporâneo. Sim, ele sabe que o pior dos pecados é imitar-se a si mesmo. Digamos: ele é um artista e um homem completo, e, numa época em que predomina o mau-gosto, o malfeito e a vulgaridade, podemos afirmar que ele é o último gentil-homem sobre a face da Terra.
Luiz Antonio de Assis Brasil
Porto Alegre, 4 de Maio de 2025
