TENTH ISLAND – DÉCIMA ILHA por/by JOSÉ ANDRADE

Today, we are featuring a series of articles by José Andrade from his latest book that reflects upon the Azorean Diaspora. These will be published in English translation and, at the bottom, in the original Portuguese language they were written in. Filamentos will publish these every 8-10 days.

BRAZIL AND URUGUAY

We have always been an emigrant people. We’ve lived in the Azores for almost 600 years and left our islands more than 400 years ago. But we never left them behind, and we always remember them. We take them with us in our thoughts and hearts and build new islands like ours on new continents.
This is the fate of our people. They are right in their homeland but keep their emotions in the land of their birth. This project affirms and dignifies the Azores beyond the region’s borders. It makes the Azorean people a transatlantic people and turns their culture into a global Azorean identity.
The Azores are only genuinely complete with their tenth islands.
That is why we evoke, with respect and recognition, the migratory saga of resilient and courageous people who enrich and magnify our islands at sea and in the world.
We came to the Azores in the 15th century, 1427, and started leaving in the 17th century, from 1619.
Our first Atlantic destination was Pedro Álvares Cabral’s Brazil.
During the colonial period, in the 17th and 18th centuries, the Portuguese Crown disciplined promoted, and financed the First Emigration.
Thousands of Azoreans left their archipelago for the “land of oblivion” to occupy and develop new colonial areas in the vast Brazilian territory – both in the Amazon basin of Pará and Maranhão and on the southern coast of Santa Catarina and Rio Grande do Sul.
The first Azoreans set sail for Maranhão in 1619. In 1666, two hundred couples, especially from the island of Faial, left for Pará.
Emigration from Faial to the north of Brazil intensified in 1672 when the Cabeço do Fogo Volcano erupted in Praia do Norte.
In the 17th and 18th centuries, we embraced Brazil from north to south.
In 1748, in the 18th century, the first governor of the captaincy of Santa Catarina, José da Silva Paes, developed his project to systematically occupy southern Brazil with couples from the Azores archipelago.
This is how the primary nuclei of the Santa Catarina coast were formed, with around 4,500 Azoreans, especially in Desterro and Laguna. In 1752, 400 of these Azorean couples began to structure the social organization of Rio Grande do Sul.
Over 500 kilometers of the Santa Catarina coastline and almost 1,000 kilometers of the Rio Grande do Sul coastline, the 6,000 Azoreans who overcame an Atlantic crossing of more than 8,000 kilometers less than three centuries ago grew and multiplied.
It is estimated that there may be around 1.5 million descendants of Azoreans in Brazil today, over ten successive generations, predominantly in Santa Catarina and Rio Grande do Sul.
But our pioneering relationship with South America goes even further back, beyond Brazil, also in the 18th century, when 300 Azorean families who had settled in the Rio Grande went down to the territory of present-day Uruguay and founded the city of San Carlos in 1763, which has now celebrated 260 years of Azorean blood.
In the Brazilian state of Espírito Santo, the founding of the city of Viana is also Azorean. In 1813, back in the 19th century, Paulo Fernandes Viana, the Azorean pioneer after whom the town was named, brought 53 families from the Azores who contributed significantly to the settlement of this municipality. In 2022, the municipality celebrated the 160th anniversary of its detachment from Vitória, the state capital, with the inauguration of an Azorean monument.
The second period of Azorean emigration to Brazil, which began in the 19th and 20th centuries, is now mainly aimed at São Paulo, Rio de Janeiro, and Salvador. In the meantime, the numbers were falling: from 13,000 annual departures in the 1960s to around 1,000 in the 1980s.
The Azoreans were beginning to swap South America for North America.


Regional Director for Communities in the XIII Government of the Autonomous Region of the Azores
Text is taken from his book Transatlântico – Açorianidade & Interculturalidade (2024) -translated by Diniz Borges

DÉCIMA ILHA

por JOSÉ ANDRADE

BRASIL E URUGUAI

Sempre fomos um povo emigrante. Vivemos nos Açores há quase 600 anos e há mais de 400 anos que saímos das nossas ilhas. Mas nunca as deixamos para trás e sempre nos lembramos delas. Levamo-las connosco, no nosso pensamento e no nosso coração, e construímos novas ilhas, iguais às nossas, em novos continentes.

É essa a sina do nosso povo. Tem a razão na terra de acolhimento, mas mantém a emoção na terra de nascimento. Isso projeta, afirma e dignifica os Açores para além das fronteiras da Região. Isso faz do povo açoriano um povo transatlântico e torna a sua cultura identitária numa açorianidade global.

Os Açores só ficam verdadeiramente completos com as suas décimas ilhas.

É por isso que evocamos, com respeito e reconhecimento, a saga migratória de um povo, resiliente e corajoso, que enriquece e engrandece as nossas ilhas no mar e no mundo.

Viemos para os Açores no século XV, por volta de 1427, e começamos a sair no século XVII, a partir de 1619.

O nosso primeiro destino atlântico é o Brasil de Pedro Álvares Cabral.

No período colonial, dos séculos XVII e XVIII, a primeira emigração é disciplinada, promovida e financiada pela Coroa Portuguesa.

Milhares de açorianos trocam o seu arquipélago pela “terra do esquecimento” para ocuparem e desenvolverem novas áreas coloniais no imenso território brasileiro – tanto na bacia amazónica de Pará e Maranhão, como na costa meridional de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Para o Maranhão seguem os primeiros açorianos logo em 1619. Para o Pará partem depois, em 1666, 200 casais especialmente provenientes da ilha do Faial.

A emigração do Faial para o norte do Brasil haveria de intensificar-se com a erupção do Vulcão do Cabeço do Fogo, na Praia do Norte, em 1672.

Nos séculos XVII e XVIII, abraçámos o Brasil de norte a sul.

É no século XVIII, em 1748, que o primeiro governador da capitania de Santa Catarina, José da Silva Paes, desenvolve o seu projeto de ocupação sistemática do Brasil meridional com casais oriundos do arquipélago do Açores.

Assim se formam os núcleos básicos da costa catarinense, com cerca de 4.500 açorianos, especialmente no Desterro e Laguna. E é com 400 desses casais açorianos que se começa a estruturar a organização social do Rio Grande do Sul, em 1752.

Em mais de 500 quilómetros do litoral catarinense e em quase 1.000 quilómetros da costa gaúcha, cresceram e multiplicaram-se os 6.000 açorianos que venceram há menos de três séculos uma travessia atlântica de mais de 8.000 quilómetros.

Estima-se que possam existir hoje cerca de 1,5 milhões de descendentes de açorianos em território brasileiro, ao longo de dez sucessivas gerações, predominantemente nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Mas a nossa relação pioneira com a América do Sul vai ainda mais longe, para além do Brasil, também no século XVIII, quando 300 famílias açorianas que se haviam estabelecido no Rio Grande descem para o território do atual Uruguai e fundam a cidade de San Carlos, em 1763, que agora comemorou 260 anos de sangue açoriano.

E no estado brasileiro do Espírito Santo é também açoriana a fundação da cidade de Viana. Já no século XIX, em 1813, Paulo Fernandes Viana, o pioneiro açoriano que deu nome à cidade, levou dos Açores 53 famílias que muito contribuíram para o povoamento deste município que comemorou em 2022, com a inauguração de um monumento açoriano, os 160 anos da sua desanexação de Vitória, a capital estadual.

O segundo período da emigração açoriana para o Brasil, já nos séculos XIX e XX, destina-se agora especialmente a São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. E regista, entretanto, valores decrescentes: de 13.000 saídas anuais na década de sessenta para cerca de 1.000 nos anos oitenta do século passado.

Os açorianos começavam a trocar a América do Sul pela América do Norte.

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Diretor Regional das Comunidades no XIII Governo da Região Autónoma dos Açores

Texto extraído do seu livro Transatlântico – Açorianidade & Interculturalidade (2024)

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